Capítulo XIV (Último Capítulo)

Quando acordou estava na cama de um hospital. Havia um homem sentado numa poltrona no canto do quarto próximo a ele e outro próximo à porta.
Bom dia Steve. Era Mike. Poderíamos conversar um pouco?
            O que aconteceu? Indaga Steve.
          Primeiro você ficou inconsciente a caminho do hospital. Perdeu uma quantidade razoável de sangue. Mike diz com um cenho sério. Segundo que você nos deve uma explicação sobre o roubo da pedra.
Steve lembrou-se dessas palavras já pronunciadas mais cedo. Percebeu que não era apenas um sonho. Fora descoberto. Seu inferno estava apenas começando a partir dali. Seu tio acabaria morrendo. E a culpa era dele.
Seu amigo Fred nos adiantou que você era o cabeça do esquema. Ele disse que você planejou tudo, invadiu o sistema e enterrou a pedra.
        Steve se altera. Não acredito que esse desgraçado fez a cabeça dos outros novamente! Ele estava furioso. Como é que vocês não percebem que foi ele quem armou tudo. Eu só fui um boneco nas mãos dele. Eu e... Steve se deteve, percebera que Mike não citara Tânia. Talvez porque ele ainda não soubesse de sua existência.
           Você e quem? Mike percebe que Steve hesitou a responder.
           Eu e... - pensou - meu ego. Sou muito descontrolado quando alguém me desafia. Sinto vontade de provar que sou capaz só para acabarem com as especulações. Steve responde torcendo para que Mike acreditasse em suas palavras.
           Esta bem. Vejo que ainda está um tanto quanto atordoado. Mike pareceu ter acreditado naquelas palavras de Steve. Vou pedir para a enfermeira trazer seu café. Mais tarde volto para conversarmos.
        E o senhor não tem medo de que eu fuja daqui assim como fez o Fred? Steve o questiona enquanto ele se dirige até a porta. E por falar nele, onde está?
         O senhor não está em condições de perguntar sobre seu amigo, não acha? Responde. E não. Eu não tenho medo. E sabe por quê? Por que se o senhor o fizer, uma tropa inteira de policiais o aguarda lá embaixo no saguão do hospital. A não ser que o senhor saiba voar, não terei preocupações alguma com sua fuga. Ironiza a pergunta de Steve sorrindo levemente e levantando sua mão e estendendo-a em direção a janela apontando-a.
        Steve ficou vermelho de raiva com as palavras sarcásticas de Mike e o vê saindo do quarto. Voltou seus olhos em direção ao criado ao lado da cama e pegou o controle remoto da TV e a ligou para distraí-lo um pouco. Nela, estava sendo exibido o jornal local com suas notícias. Falava do roubo da pedra e que a policia já havia pego dois suspeitos do crime.
Sentiu que sua garganta estava seca como o deserto. Não bebera coisa alguma desde o dia do roubo. Tudo que almejava naquele instante era um copo com qualquer líquido desde que estupidamente gelado.
          Passado um tempo, uma enfermeira loira adentrou ao quarto com seu café. Ela estava com a cabeça um tanto baixa, mas pode perceber que era linda.
Tão linda e cheia de curvas quanto a minha querida de parar o transito. Pensava Steve. Parece a minha menina.
           Parou o carrinho ao lado da cama e colocou a bandeja do seu café da manhã em seu colo. Aqui está seu suco senhor. Também temos um pão de ervas recheado com queijo. Ele tomou o suco como num gole só enquanto a enfermeira permanecia parada ao seu lado. Pegou um pedaço do pão e o levou até sua boca quando percebeu a enfermeira levantar sua cabeça mostrando-lhe seu rosto.
           Tânia! Steve falou surpreso. O que faz aqui!? Eles não a viram ontem, na verdade nem eu a vi. Quando levei o tiro, olhei em volta, mas não a vi. Onde esteve? Você corre perigo vindo aqui para me ver! Steve derrama uma série de  questionamentos em cima de Tânia.
        Shhh! Ela faz sinal para ele baixar o tom da voz. Ora Steve, o que você acha que eu faço aqui? Você contou a eles sobre minha existência? Tânia pergunta com ar suspeito.
        Claro que não! Quero te proteger. Steve continua. Inclusive gostaria de pedir desculpas por qualquer dúvida que passou pela minha cabeça sobre você. Eu deveria saber que você jamais iria ser capaz de fazer aquilo tudo que Fred disse.
        Pois é, não é Steve. Você ainda teve dúvidas quanto minha pessoa. Tânia diz esboçando um sorriso.
            Você sabe sobre o Fred? Indaga Steve enquanto da uma dentada em seu pão de ervas.
            Ah, não se preocupe. Este não incomoda mais.
           Como ‘axim’? Diz com a boca cheia de pão.
Não devia ter tomado todo o suco de uma só vez. Pensou. Agora vou ter que comer esse pão seco!
         Fui visitá-lo na cadeia. Ele parecia um tanto arrependido coitado, mas ficou logo irado quando lhe mostrei isto aqui. Veja. Tânia puxa do seu bolso a joia roubada. Linda ela, não acha?
        Tânia! O que faz com esta pedra? Steve pergunta incrédulo em vê-la na posse de Tânia dentro de um hospital repleto de policiais. E o que Fred faz na cadeia? Ele não estava ferido? Porque não veio para o hospital também?
         O que você acha? Eu a desenterrei ontem antes de encontrar vocês. Sabia que você viria e sabia que Fred também apareceria. Tudo fazia parte do plano. Responde sem dar importância às outras perguntas feitas.
          Plano? Steve parece confuso novamente.
           Sim. Fred havia pensado em tudo, menos que eu tentaria matá-lo.
          O QUÊ?! Steve espantado não acreditou nas palavras que acabara de ouvir.
        Exatamente. Deixe-me lhe contar uma breve história. Tânia diz recostando-se no pé da cama de Steve. Fred e eu saímos daquele museu com a pedra e a enterramos próximo do local. Seria fácil demais reavê-la, pois não pensariam em procurá-la tão perto assim. E eu tenho alguns contatos, não é mesmo. Logo após isso traçamos um plano para eliminá-lo. Eu sei que você é fraco e sempre cede por pressão. Eu fingi estar do lado de Fred. Até simulei uma briga com ele na estação de trem. Ele diz que o tiro foi errado, e foi mesmo, era para ter sido mortal, mas não se preocupe, pois como disse, já o visitei na cadeia e ele não nos trará mais problemas.
           Como assim? Indaga assustado temendo pelo pior.
Calma, logo você saberá.
           Por que você fez isso Tânia? O que ganhará com isso?
        É serio esta pergunta Steve? Tânia o questiona com um tom irônico. É muito claro o que eu tenho a ganhar não acha? Sou rica agora! Tenho em mãos uma pedra que vale muito dinheiro e nenhum policial sabe de minha existência no roubo. Você ainda tem dúvidas sobre o que estou ganhando?
          Você não sairá daqui ilesa Tânia. Eu vou contar tudo!
          Ela começa a rir sarcasticamente. Você acha que também não pensei nisso, meu querido?
          Neste momento, Steve sente sua cabeça pesar. Sua visão começa a ficar desfocada e escurecida. Sua fala começa a falhar. Seu peito dói. Os pulmões começam a sentir a falta de ar. O corpo começa a tremer sentindo calafrios. As articulações parecem estar travadas. O ar que lhe atinge aos pulmões já não é mais o suficiente para mantê-lo consciente.
Fui envenenado! Sua desgraçada! Mas como? Indaga Steve.
          Tânia começa a gargalhar. Está tentando descobrir como, docinho? Pergunta. Você não se lembra do que aconteceu aqui quando entrei?
        O suco! Steve tem um súbito estalo na mente.
        Isso mesmo, meu bem. O suco não estava delicioso? Tânia fala em gargalhadas. Bom, agora deixe-me ir, pois tenho muito a fazer. Passagens a comprar. Vida nova a levar. Adeus meu amor, foi muito bom o tempo que passamos juntos. Diz enquanto alisa o rosto ofegante de Steve pelo efeito do veneno.
        Ele sente cada vez mais a falta de ar. Os batimentos do seu coração tomam um ritmo cada vez mais acelerado e descontrolado. Seu corpo começa a tremer por inteiro. Tânia se afasta cada vez mais da cama em direção à porta. Seu sorriso no rosto tinha uma expressão demoníaca.
        Ao chegar à porta do quarto, Tânia se vira e manda um beijo em direção a Steve que, por sua vez, sente seu corpo abandoná-lo. Os aparelhos começam a apitar freneticamente. Os enfermeiros ouvem o som avassalador e correm em direção ao quarto. Tânia já o deixara a beira da morte quando entrou no elevador.
Antes que a porta se fechasse por completo, teve uma última visão dos médicos e enfermeiros atropelando a porta do quarto de Steve para salvá-lo.
         Durante a descida até o térreo, retirou sua peruca loira e se despiu da roupa de enfermeira revelando a roupa de uma simples garota visitante que usava jeans e uma camisa branca sem manga.
         A porta do elevador se abriu e ela saiu. Caminhou lentamente por entre os policiais que estavam no saguão até a porta principal do hospital. Alguns até cessaram suas conversas para ver o desfilar hipnótico daquele par de pernas lindas e cintura fina. O balançar daqueles quadris encorpados e seios fartos eram de pura sedução. Estava se sentindo no ápice da beleza e desejo.
Lá fora, o carro roubado de Fred a aguardava estacionado logo ao lado do prédio do hospital.
          Desceu as escadas e foi ao encontro do carro que já estava ligado, pronto a sua espera. Abriu a porta do carona e entrou.
           E ai. Tudo resolvido?
          Sim.
          Muito bom meu amor. Sabia que poderia contar com você.
      Claro. Eu não falho nunca. Agora vamos embora daqui Mike. Esta cidade me traz tristes lembranças.
       










FIM

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