Precisamos encontrar Fred. Ele é a chave para esse problema. Exclama Tânia de dentro daquele minúsculo elevador. Temos que ir atrás dele para conversar.
Quero ouvir o que ele tinha a nos dizer sobre a tal pedra. Se essa for nossa
única saída, teremos que recorrer a ela.
Steve permanecia imóvel. Parecia nem se importar com o
que acontecia a sua volta, tampouco se importava com o que Tânia falava.
Steve, estou
falando com você! Será que dá pra prestar atenção em mim um minuto só?! Tânia odiava ser ignorada.
O que você
disse? Pergunta Steve voltando do seu
estado estático.
Você não
ouviu uma palavra que eu disse, não é?! Pergunta
ironicamente. Steve da com os ombros. Isso deixa Tânia ainda mais irritada, mas
respirou fundo e tentou se acalmar. Sabia que Steve não a ignorava por vontade
própria. Ele estava em um momento difícil. Era compreensível aquela sua reação.
O elevador chega ao térreo. As portas se abrem. Eles
caminham em direção à saída. Descem as escadas e caminham até o carro e
adentram-no. Tânia se volta para Steve.
Eu disse que
deveríamos procurar o Fred. Ele talvez tenha alguma solução para o nosso
problema.
Sim, ele tem.
Tem o desejo de nos ver como bandidos! Ressalta
Steve.
Para com isso
Steve. Não é bem isso... Ah não?! E o que é então? Responda-me! Eu quero saber!
Steve interrompe falando alto.
Está bem!
Você talvez esteja certo. Assente.
Talvez,
Tânia? Indaga mais uma vez com tom
irônico. É claro que estou certo! Diz encarando-a friamente. Suas mãos seguravam o volante do carro com uma raiva descomunal. O que
me decepciona ainda mais é em como pude ser tão idiota de confiar em uma pessoa
dessas. Uma pessoa tão... mau caráter!
Calma,
amor. Tânia tenta acalmar Steve. Vamos ouvir o que ele tem a dizer. Isso
não fará de nós criminosos apenas por ouvir uma ideia. Pense bem, como Fred
disse antes, nós nunca conseguimos nada que podemos dizer que é nosso. Você
ainda mora naquele pardieiro nojento e vive à custa do seu tio. E ainda mais
agora com esse câncer... De onde vamos arrumar tanto dinheiro assim
para pagar essa operação? Nem que você venda a empresa, não teríamos dinheiro o
suficiente para cobrir essa despesa. Eu sei que isso foge totalmente do seu estilo
de vida e também isso vai de encontro a tudo que você acreditou... Isso também vai de encontro ao meu! Mas pense
bem... É uma saída, senão a única.
Steve assentira com a
cabeça. Sabia que, no pior de todas as hipóteses, Tânia tinha alguma razão no
que falava.
E, poxa, eu também não tenho nada nessa vida que possa
me vangloriar. Claro que tenho você e seu tio que considero minha família,
mas... Você entende o que eu digo não? Steve se volta para Tânia olhando fixamente em seus
olhos. Como Fred disse, você tem este dom maravilhoso. Porque não podemos
aproveitá-lo só um pouquinho? Mesmo que seja para uma pratica não tão
respeitosa, ela tem um fundo de funcionalidade, afinal, será por uma ótima
razão... Você irá salvar a vida do seu tio!
Mas Tânia, estamos falando de um roubo! Uma coisa
completamente errada! Steve indaga com peso na consciência.
Então você acha que devemos deixar seu tio morrer? Questiona Tânia. Mesmo
sabendo que temos uma saída, você ainda prefere deixar seu tio partir?
Mas é errado. Os fins não justificam os meios. Completa Steve. Meu tio
morreria de desgosto se soubesse que fui capaz de ir tão baixo dessa forma.
Steve diz voltando a ficar imóvel por algum tempo.
E então, o que acha que devemos fazer? Questiona Tânia.
Bom. Steve fala quase sussurrando. Eu não gosto nada
desta história, mas... Acho que devemos ir atrás de Fred e ouvir o que ele tem
a dizer.
Tânia avistou um telefone
público. Saltou do carro e foi telefonar para os correios à procura de Fred.
Steve deu a partida no motor e aguardou-a retornar. Em poucos minutos, ela
devolveu o fone ao gancho e caminhou até o carro. Adentrou.
Ele vai nos aguardar no depósito abandonado. Vamos
para lá agora!
O que você disse a ele? Pergunta Steve curioso.
Nada de mais. Apenas que agora estávamos prontos para
ouvir o que ele tinha a dizer. Mas chega de papo. Ande, vamos para lá que ele
já disse estar a caminho também.
Prontamente Steve parte
dali em direção ao local escolhido. Durante o caminho, Steve percebe que a
feição de Tânia estava estranha. Possuía um brilho indecifrável. Parecia estar
ansiosa para tudo aquilo que tinha por vir. Por um instante, não reconheceu a
garota por quem se apaixonara perdidamente. Estava ali, ao seu lado, uma
incógnita, sombria e muito mais misteriosa.
Ao chegarem ao local
combinado, notaram um velho carro estacionado ao lado de um galpão. Era de Fred.
Steve adentra o portão e
contorna o estacionamento parando ao lado do carro estacionado. Fred aguardava
sentado em uma velha cadeira ao lado da porta do depósito.
Que bom que vocês mudaram de ideia! Diz Fred enquanto Tânia
salta do carro, e Steve faz o mesmo após desligar o motor do carro e retirar a
chave da ignição.
O que você tem em mente? Pergunta Tânia sem a menor perda
de tempo.
Vamos com calma Tânia. Indaga Fred. Estive verificando
e descobri que a joia chegará dentro de três dias. É pouco tempo que teremos
para planejar algo, mas até lá poderemos analisar o local do museu onde a joia ficara
armazenada e estudar o prédio e a sua movimentação. Enquanto Fred falava,
os olhos de Tânia clamavam por um brilho de aventura. Aquela cena não agradava em
nada a Steve. Tudo tem que ser sincronizado e, com nosso amiguinho aqui – Fred diz apontando para Steve que esboça uma face de
ódio – teremos certeza de que as câmeras e o sistema de alarmes não serão
problema. Steve fuzila Fred com os
olhos. Mas para isso, precisamos ver até onde vai seu “talento”, não é
garoto?
Steve odiava aquele tom de voz pejorativo usado por
Fred. Ele era apenas dois anos mais novo que Fred. Como faremos então? Questiona
Tânia. Calma minha querida, tudo em sua hora, mas antes preciso saber se
realmente estão dispostos a ir até o fim comigo nessa história. Fred encara principalmente a Steve. E ai,
estamos todos juntos nessa? Diz estendendo o braço para ambos.
Seja objetivo
e reto! Exalta Tânia estendendo seu
braço a Fred.
Fred sorri com a confirmação da garota. Volta-se para
Steve. E você parceiro? Posso contar
contigo também?
Steve se conteve por uns
instantes. Sim... Pode contar comigo para o que for.
Um sorriso intimidador é
visto na face de Fred neste exato momento.
Ótimo! Fico muito feliz com isso.
E então, o que faremos? Pergunta Tânia impaciente.
Calma. Aqui não será possível continuar essa conversa.
Encontrem-me amanhã em frente à empresa do tio do Steve. Lá explico melhor a minha
ideia.
Mas amanha é domingo e a empresa do meu tio não abre,
e nem abriria se quisesse também...
Não entendi
porque essa frase, Steve? Pergunta
Fred em ar de curioso. Ele não sabia do estado de Adam. E Steve com certeza não
queria contar-lhe mais nada. Não confiava mais naquele sujeito após conhecer
sua verdadeira índole.
Não, nada. É
que meu tio fica com a chave...
Mas você não tem aquela chave extra mais? Tânia o dedura.
Eles usavam aquele pequeno escritório por muitas vezes
como o ponto de encontro romântico dos dois.
Muito bem então. Estamos decididos. Amanhã de manhã me
esperem lá. Até mais senhores.
Fred entra em seu carro, dando a partida e saindo dali
deixando então o casal. Steve e Tânia ficam, ainda por um tempo, imóveis.
Encostados na parede pensativos. Steve com os olhos perdidos pensando no tipo
de enrascada que estava preste a entrar. Tânia estava ansiosa apenas. Adorava o
espírito de aventura e perigo. Estava degustando aquele sabor ora amargo de
medo, ora doce e saboroso de ansiedade.
Ficaram assim por um tempo. Depois decidiram partir
também.
Entraram no carro e Steve dirigiu rumo à casa de
Tânia. No caminho, vendo o estado que Steve estava, ela sentiu um aperto em seu
peito.
Será que
podemos realmente confiar em Fred, ou seria melhor desistir enquanto é tempo?
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