Capítulo VII

Após ter se recuperado do susto, Steve vira as costas e começa a andar em direção ao carro de seu tio que estava em sua posse. Vamos Tânia! Vamos dar o fora daqui! Diz enquanto enfia a mão no bolso puxando as chaves do carro. Steve deixe-me explicar a você no que pensei. Fred tenta argumentar com o amigo que mal o olhava nos olhos agora.
        NÃO! Exclama Steve indignado com o caráter duvidoso do amigo. Eu já entendi o que você pretende. Você não passa de um ladrão! Eu não sou esse tipo sujo de pessoa. Achei que você fosse digno, mas vejo que me enganei.
        Calma, Steve. Fred tenta acalmá-lo. Pense bem. Você passou a vida toda nesta cidade no fim do mundo, depende do tio, e o que você tem a oferecer? NADA! Exceto é claro, este dom belíssimo de desvendar o segredo das maquinas. Você tem um talento nato garoto, usufrua dele!
       VOCÊ ESTÁ LOUCO É!? Steve estava fora de si. Jamais pensara que Fred poderia agir daquela maneira. Vamos Tânia, vamos para bem longe deste bandido! Diz agarrando-a pelo braço e puxando-a para longe de Fred, mas Tânia começou a pensar que talvez Fred tivesse razão. Nunca conseguira nada que pudesse se orgulhar de viver naquela cidade. Estava na hora de rever os conceitos. Amor, eu acho que Fred tem razão. Diz enquanto caminha em direção ao carro.
        O QUÊ?! Você está maluca também? Responde Steve irritadíssimo. Não acreditara que Tânia pudesse ser a favor daquele caráter tão duvidoso de Fred.
Mas amor pense bem... EU NÃO QUERO OUVIR MAIS NADA! Interrompe Tânia. Steve estava completamente chateado com a índole de seu amigo. Olhe Tânia, não vou mais implorar para irmos embora daqui, mas se você quiser ficar com este sujeito ai, -aponta de forma menosprezada para Fred- eu não vou querer mais olhar para sua cara! Eu estou indo embora. Você vem ou fica? Steve falava com firmeza. Ele não iria voltar atrás em suas convicções. Tânia volta-se para Fred. Este faz um movimento de cabeça que deu a entender que depois conversariam. Ela se volta para Steve novamente. Está bem. Vou com você. Sempre estou! Diz Tânia tentando acalmar a situação.
Os dois entram no carro. Steve da a partida no motor e arranca dali sem pensar duas vezes. Tânia fita Fred através do vidro pensando na ideia que ele tivera.
No caminho Steve permanecia mudo. Tânia, por outro lado, tentava puxar assunto.
O tempo ficou estranho de uma hora para outra, não acha? Ficou meio nublado... Ah, já sei! Que tal irmos ao Veteran? Você sempre se anima lá.
Tânia, por favor. Se não se importa, não estou a fim de conversar. Responde em tom ríspido.
É por causa do Fred? Pergunta se fazendo de desentendida.
Tânia! Será que ao menos uma vez você pode me respeitar, por favor!? Exclama em bom tom deixando claro que não queria conversar.
Credo Steve! Está bem. Se você quer assim, que seja! Responde tentando se fazer com a razão e realizam o trajeto no mais absoluto silêncio.
Ao chegarem à porta da casa de Tânia, esta desce sem despedir-se e bate com força a porta do carro. Steve só observa aquela atitude infantil da moça e parte dali sem sequer esperar que ela entrasse em sua residência. Tânia, ao ver que ele partiu e não lhe dera atenção apenas exclama. Grosso! Abre a porta de sua casa e adentra fechando-a posteriormente.
Steve demorou algum tempo andando vagarosamente pelas ruas com o carro até a casa do seu tio. Apenas pensava naquilo que seu amigo dissera. Não conseguia aceitar aquela frustração que Fred o deixara.
Quando cruzou à sua rua, avistou uma ambulância estacionada em frente a sua casa. Desesperou-se de imediato. Tio!
Estacionou de forma bruta logo atrás da ambulância. Saltou do carro e correu em direção à entrada da casa. Lá dentro, percebeu uma movimentação que vinha do quarto do seu tio. Subiu as escadas a todo vapor atravessando a porta do dormitório.
Tio! Gritou jogando seu corpo para frente e esticando os braços indo ao encontro do tio quando o viu estirado na cama com dois paramédicos ao seu lado lhe assistindo.
Calma! Disse um dos paramédicos tentando detê-lo. Ele agora passa bem. Já o socorremos e o medicamos. Por favor, acalme-se.
O que houve com meu tio? Pergunta indignado com a cena do tio desmaiado na cama.
Suspeitamos que ele fora acometido por um ataque cardíaco. Foi ele mesmo quem nos contatou. Disse, ao telefone com uma de nossas atendentes, que estava sentindo uma dor muito forte no peito e que sentia seu braço esquerdo todo dormente. Quando chegamos aqui, ele estava estirado no chão desse quarto. A cabeça estava sangrando, pois, ao que parece, batera com ela na quina do criado mudo. Socorremos e tratamos do ferimento e agora ele passa bem, mas vamos levá-lo até o hospital para fazer alguns exames. Acredito que o senhor queira ir junto, não é? Pergunta.
Sim. Claro que vou! Concorda Steve.
Os paramédicos levaram Adam até a ambulância. Steve foi logo atrás junto do seu tio e de lá partiram ao hospital.
Chegando lá, Adam foi levado ao centro de imagens onde realizou um exame de tomografia computadorizada. Steve tivera de aguardar na sala de espera.
O exame parecia demorar uma eternidade. Já passava das quatro horas da madrugada naquele momento. Andava de um lado a outro naquela minúscula sala de espera. Ansiava por alguma informação que lhe trouxesse nem que fosse um pouco de paz. A todos que ele interpelava, sempre ouvia a mesma resposta. O médico já virá falar com o senhor. Por hora, é preciso aguardar.
Quando era quase seis horas da manhã, o médico veio lhe falar.
Desculpe a demora. Sou o Doutor Sam, cardiologista e especialista em neurocirurgia. O senhor é o acompanhante do senhor Adam, certo?
Sim. Responde Steve apreensivo.
O que o senhor é do paciente?
Filh... Quer dizer, sobrinho. Gagueja.
Filho ou sobrinho? Pergunta o doutor insistindo.
Sobrinho. É que ele me criou desde que eu era pequeno. Nem me lembro dos meus pais biológicos. Assim, o considero como meu pai e tio. Responde retirando a dúvida do doutor. Mas por favor, doutor, sem rodeios, como está meu tio?
Então. Começa o médico. Falando em termos leigos, seu tio teve um ataque do coração. Fora a tomografia, fizemos um eletrocardiograma que detectou alguma anormalidade, mas já está se recuperando. Ele é firme, não se deixa abater facilmente.
Ah, que alívio. Exalta Steve.
Entretanto...
Entretanto o quê, doutor? Steve já recobre o ar de alívio com o de preocupação novamente.
Entretanto, com aquele ferimento na cabeça pela queda que teve no quarto, achei melhor também fazermos uma tomografia do crânio. Nela, detectamos uma massa de tamanho considerável no lobo direito do cérebro de seu tio.
O quê!? Steve se assusta com aquela informação. O que meu tio tem no cérebro doutor?
Bem, ainda não tenho certeza, mas responda-me uma coisa. Seu tio, por acaso se queixava da visão? Ele conseguia enxergar direito com aqueles óculos? Acreditamos até que ele tenha caído por conta disso. Os paramédicos disseram que seus óculos estavam sobre o criado mudo. Acho que ele estava em pé, próximo aos óculos e, quando foi tentar caminhar em direção a eles, escorregou no tapete obtendo a queda. Ainda não temos certeza desses fatos, a princípio é só uma suposição.
Está bem doutor, mas o que meu tio tem? Steve já estava ficando impaciente.
Nesta hora, um dos enfermeiros chega com vários papéis em mãos.
Doutor, os resultados de sangue daquele paciente chegaram. O radiologista também já emitiu o laudo da tomografia. Estão aqui juntos.
Ah, obrigado. Agradece o doutor ao enfermeiro recebendo-lhe os papéis.
Ele começa a folheá-los e olhando detalhadamente todos os exames. Demonstrou certo receio aos resultados de sangue. De repente, seus olhos fixaram no resultado da tomografia de crânio. Steve notara a feição calma daquele medico tomar forma de preocupação. Notoriamente havia algo errado naquele resultado.
O que foi doutor? O que está escrito aí? Steve sentia o coração pulsar na garganta. Estava suando frio. Sua respiração ofegante. Temia o pior naquele momento.
Creio ter más notícias, meu jovem. Disse o médico. A massa que encontramos no cérebro do seu tio... É um câncer.

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