Capítulo XII

Fred gira a maçaneta calmamente, e abrindo a porta ainda mais lentamente. Lá encontraram-na como Fred havia previsto. Totalmente desguarnecida. Era fatal pensar que numa cidade pequena como aquela de interior, houvesse algum louco o suficiente para tentar invadir o prédio e roubar uma joia como aquela. Na verdade havia não apenas um, mas três loucos naquela noite fria.
Uau! Exclama Tânia que ficou extasiada com a beleza da pedra. Que linda! Não imaginei que ela fosse assim!
Pois é... Fred completa. Eu não disse que vocês não iriam se arrepender?
Era linda aquela joia. Sua cor roxa parecia viva. Sua forma como a de uma safira tornava sua beleza num encanto ainda maior.
Não tiveram dificuldade alguma em passar por um cordão de isolamento que estava no local, retirar a tampa de vidro e, com muito cuidado, puxar a pedra de seu pedestal. Recolocaram a tampa e saíram às pressas do local, pois já estava próximo do prazo final de tempo e os guardas logo estariam ali. Fred coloca a pedra em um de seus bolsos da calça.
Teriam muito pouco tempo de saírem dali antes dos guardas darem por falta da joia. Steve assistiu a tudo pela tela do computador. Incrédulo. Eles conseguiram.
Ainda desacreditando da tamanha façanha que seu amigo e sua namorada fizeram, começou a notar uma movimentação estranha dos guardas. Eles pareciam procurar algo. Percebeu então que já haviam detectado a invasão. Checou o corredor onde se encontrava o guarda preso. A porta antes trancada estava agora aberta. Notou um pedaço de fita jogada no chão e se desesperou. Percebeu que, de alguma forma, o segurança havia se soltado e contado aos outros guardas o que aconteceu, e ele não possuía meio algum de entrar em contato com os dois que ainda permaneciam no prédio.
Ficou tão chocado com o feito dos dois que se esqueceu de olhar para as imagens das outras câmeras.
Droga! Como fui deixar-me distrair? Brigava consigo mesmo.
Acho que fomos descobertos! Tânia diz enquanto nota uma movimentação estranha.
Melhor sairmos rápido daqui! Fred acrescenta.
Os dois começam a correr desesperadamente procurando a saída mais próxima.
Avistaram a porta de serviço, a mesmo por onde entraram. No mesmo caminho estava o quarto de limpeza com a porta aberta.
Maldito! Então foi ele. Da próxima amarro mais forte! Tânia pensa enquanto corre.
Quando passaram pela porta da entrada de serviço, ouviram um dos guardas aos berros chamando pelos outros. Roubaram!! A pedra foi roubada!!
Fomos descobertos! Melhor apressarmos. Fred diz.
Correram em direção ao bosque das árvores que ficava cerca de quatro quarteirões ao lado direito do museu.
Aqui a gente pode despistá-los. Tânia pensa.
Não podemos ficar aqui até o dia amanhecer. Diz Fred.
Tive uma ideia. Vem comigo. Tânia diz a Fred. Aquela pedra ali é um ótimo esconderijo para a nossa joia. Diz apontando para uma enorme rocha no centro do bosque.
Fred, sem entender muito, segue a garota até o local que apontara.
        Lá, Tânia começa a cavar.
O que você vai fazer? Não está pensando em enterrar a pedra, está? Fred diz desconfiado.
Tem alguma ideia melhor? Indaga Tânia com ar de desprezo.
Então, os dois enterraram a joia próxima à pedra do alto. Uma pedra da altura de três metros e dois de largura. Era um bosque pouquíssimo frequentado então era um ótimo local para esconder a pedra.
Na empresa, Steve tratou de desconectar tudo e excluir todo arquivo que poderia ser considerado evidência ou qualquer outra coisa. Histórico, registros, e tudo mais que julgava necessário.
Naquela noite, Steve se dera conta do que acabara de acontecer. Ele e seus amigos haviam infringido a lei. Percebeu que dali em diante era só uma questão de tempo até encontrarem os culpados.
Mesmo sabendo que naquele momento Tânia e Fred estavam em apuros, Steve ficou imóvel em frente ao computador já desligado com os olhos perdidos. Ele não conseguiu ver se eles haviam conseguido fugir.
Num breve momento, retornou ao seu estado consciente e levantou-se da cadeira num movimento só e apressou-se a sair daquele lugar o quanto antes.
Ele sabia que, se eles houvessem se safado, iriam ao seu encontro no local marcado, mas ele se desesperava cada vez mais em pensar em tudo o que ocorrera. Pensava em seu futuro. Na vergonha que trouxera para o tio, pois sabia que, mesmo tendo tomado todas as medidas para não ser pego, era só uma questão de tempo até avistarem seu rastro na Internet e segui-lo até a empresa.
Sabia que podia ser bom em não deixar pistas, mas compreendia que nesse mundo sempre há pessoas que também são muito capazes de encontrar o que procuram.
Seus pensamentos estavam a mil. Queria desistir de tudo. Queria deixar de sentir esse sentimento de culpa e de traição. Tomara então uma decisão. Desceu as escadas que davam acesso  à rua. Trancou a porta quando passou e foi até o carro de seu tio, estacionado ao lado do prédio. Decidiu se dirigir até o ponto de encontro.
No caminho, não conseguia pensar em mais nada. Apenas queria que sua namorada Tânia tivesse conseguido se safar daquela armadilha ilícita de Fred.
Dirigiu a uma velocidade incrível. A hora parecia estar congelada no tempo.
Quando chegou ao local, um galpão de uma destilaria abandonada na estrada principal que deixava a cidade, não avistou ninguém. Isso só fez com que seu medo aumentasse ainda mais. Começou a ficar impaciente com a tamanha demora pelo encontro. Andava de um lado a outro. Sua face tomava cada vez mais uma expressão ímpar de medo e angústia. Só imaginava o pior. Perdera sua namorada. Faliu a empresa do tio e o colocou numa situação inexplicável. Só imaginava que traiu também sua própria vida e princípios. Não era aquela a realidade que vivera. Não era aquele caminho que lhe ensinaram. Lembrou-se de uma pequena conversa que tivera com Tânia onde ela pensava em desistir.
Dizia não achar que o plano de Fred funcionaria e tinha medo de que pudesse acontecer o pior. Tinha medo de ser pega e destruir todo seu futuro e, principalmente, decepcionar Steve.
Encontrou um pedaço de papel e um lápis quase sem ponta dentro do carro e, com um desespero invencível, escreveu um curto bilhete na esperança de que alguém ainda apareceria por lá para o ler, e se retirou rapidamente daquele local.
Duas horas depois, Fred e Tânia apareceram no local. Vieram caminhando. O carro de Fred estava muito próximo ao museu para arriscar irem e serem pegos. Estava escuro e quieto. Um silêncio mórbido reinava no recinto. Adentram com cautela a procura de Steve, mas nada encontraram senão um pedaço sujo de papel sobre um velho banco de madeira já podre. Nele, duas palavras avassaladoras estavam em letras garfais que deixavam um aviso de fácil compreensão. Tânia logo reconheceu a letra. Era de Steve.
Ao lerem a frase do papel, se entreolharam com uma expressão altiva de que deveriam tomar alguma atitude imediata quanto aquilo. E deveriam correr para isso. Caminharam às pressas porta afora largando o bilhete que pairou no ar até tocar o chão com a sua face voltada para cima.
No papel, EU DESISTO!

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