Capítulo VIII

     Impossível! Isso não pode estar acontecendo! Só pode ser mentira! Meu tio não vai morrer! Steve se exaltara com aquela notícia devastadora. Não podia acreditar que seu tio estava com câncer. Não queria aceitar.
        Calma, rapaz. Diz o médico tentando acalmar Steve. Ninguém está dizendo que ele irá morrer.
      Alguns enfermeiros, ao ouvirem aqueles gritos, adentram a sala de espera no intuito de acalmarem o jovem garoto. Até, se preciso, imobilizá-lo.
        Steve começa a se acalmar. Percebeu que, além de estar em menor número, seria inútil confrontar a pessoa que lhe trouxe tal notícia, pois ele nada tinha haver com o problema. Tratava-se apenas do portador da informação.
        O que vocês podem fazer por ele? Questiona Steve.
        Bem, ainda não sabemos. Responde o doutor. Mas pelo que descobrimos até agora, essa massa em seu crânio possui um tamanho preocupante. Precisamos examinar mais antes de tomar qualquer decisão, mas já adianto que é bem provável que seja preciso uma cirurgia.
        Não tem problemas Doutor. Farei o que for preciso para ajudar meu tio.
        Pois é... Explana o médico. Esse é o problema.
        Steve esboça uma feição de dúvida. Não entendera o que aquele homem quis dizer. Como assim? Qual é o problema Doutor?
        É que, para casos como esse, nós não temos as ferramentas adequadas, nem sequer uma equipe apta para essa cirurgia. Fora que se trata de um procedimento de altíssimo custo.
     Ele terá de ser operado na cidade vizinha. Isso é claro se for concluído que ele pode ser transportado sem nenhum risco à sua saúde e a sua vida. Caso não possa, eu temo pelas consequências. O Doutor assente. Eu lamento muito.
        Aquelas palavras resoavam dentro de Steve. Meu tio está morrendo... Não posso acreditar nisso. Preciso fazer alguma coisa e rápido!
De imediato, sugiro que vá para casa e descanse. Prometo que amanhã terei mais notícias sobre o seu tio.
Steve não acreditava naquela cruel situação. Mal sequer poderia se imaginar descansando enquanto seu tio necessitava de ajuda, mas naquele atual estado, sabia que não iria ajudar em nada. Decidiu por fim aceitar o conselho do médico e voltou para casa em busca de uma cama bem acolchoada para findar aquele fatídico dia.
No caminho de volta, pensara no que Fred dissera. Na situação de seu tio e na tal cirurgia de extremo valor que o médico falara que seu tio poderia precisar.
Seus pensamentos estavam todos embaralhados e desfocados. Já não sabia definir o certo do errado, e tinha medo do amanhã chegar. Não queria ter que encarar toda aquela realidade.
Quando chegou, mal percebia seus movimentos. Fazia tudo como se fosse um robô programado. Apenas se deu conta que estava em casa quando se deitou em sua cama. Não quis pensar em mais nada naquele momento. Nem sequer pensou em notificar Tânia do ocorrido. Faria isso depois. Por hora, queria apenas fechar os olhos e embalar-se naquele sono, e assim o fez.
No dia seguinte, procurou Tânia. Precisava sentir um conforto, e sua namorada era a mais propícia naquele momento.
Quando chegou à sua casa, viu Tânia sentada na varanda. Tinha um olhar distante. Mal percebeu a presença de Steve.
Amor? Diz Steve atraindo Tânia de volta à realidade.
Oi. Responde recobrando-se. Steve! Graças a Deus! Estava preocupada com você. Onde esteve? Liguei por várias vezes, mas ninguém atendia. Fiquei preocupada.
Estava no hospital. Responde sentando-se ao seu lado. Os ombros baixos. Tronco curvado e cabeça baixa. Não conseguia ergue-la.
Hospital? Tânia se espanta. O que houve com você? Está tudo bem? Você está se sentindo bem? Tânia descarrega uma chuva de interrogações.
Calma, Tânia. Eu estou bem, mas meu tio... Steve se conteve. Não conseguiu terminar.
O que houve com seu tio? Porque ele está no hospital? Tânia teme o pior.
Steve sente a cabeça pesar ainda mais. Seus olhos começam a se tornar rios correntes. Começa a sentir seu rosto se molhar todo pelas lágrimas.
Steve, meu Deus. Você está me deixando preocupada! Tânia já estava começando a ficar impaciente.
Câncer! Consegue responder.
O quê? Não entendi! Questiona.
Meu tio tem câncer, Tânia.
A noticia caiu como uma bomba sobre Tânia.
Quando cheguei em casa ontem, encontrei meu tio estirado no chão. A ambulância já estava lá. Ele conseguiu tempo para chamá-la. Fomos correndo para o hospital. Lá, meu tio fez uma bateria de exames. De sangue, tomografia, raios-x... Em um desses exames foi evidenciado um acúmulo de massa em seu crânio. A tomografia foi laudada, e o médico radiologista disse que se tratava de um câncer.
Como é?! Tânia estava incrédula. O tio Adam, como gostava de chamá-lo, sempre praticou exercícios físicos, alimentava-se direito. Só começou a prática desregular dos exercícios depois que chegou a uma certa idade. Isso quem sempre dizia era Steve.
O médico disse que hoje eu poderia voltar lá que ele teria novas noticias, mas estou com medo do que ele possa me falar. Preciso de você. Steve estava com os olhos já vermelhos de tantas lágrimas que escorriam. Você poderia ir comigo ouvir o que o médico tem a dizer?
Claro! Tânia responde prontamente. Jamais o deixaria só nessa situação, meu amor.
Obrigado. Não sei o que seria de mim sem você...
Tânia o ajuda a enxugar as lágrimas e a se recompor. Ela o abraçou fortemente. Ele pode sentir todo o calor do corpo dela percorrer pelo seu. Depois, ela o fez recostar sua cabeça sobre seu colo no intuito de acalmá-lo antes de irem ao hospital.
Sempre estarei contigo. E se Deus quiser, seu tio sairá dessa. Tânia possuía um apreço muito grande por Adam. Podia sentir a dor que Steve sentia naquele momento.
Steve por sua vez, apenas se deixava embalar naquele momento à procura de uma paz momentânea. Depois era se preparar para um possível caos, pois sentia que as notícias que o médico traria não seriam de tão agrado.
Sentados ali há quase quarenta minutos, Steve decide se levantar e ir ao encontro do Doutor. Tânia, obviamente, iria com ele para lhe dar apoio.
Entraram no carro e partiram dali. O percurso todo foi feito no mais absoluto silêncio. A tensão era grande demais naquele momento.
Ao chegarem ao hospital, Steve sentiu suas pernas perderem força. Tânia o segurou na mão e caminharam juntos pelas escadas até a entrada principal.
Lá dentro, uma recepcionista os atenderam.
Vim ver meu tio que está internado. Clark Adam Ningodoubt.
Este sobrenome era inconfundível. Todos o conheciam devido à sua empresa Ningodoubt Design. Logo, a atendente forneceu-lhe um crachá de identificação e autorizou sua passagem.
Tomaram o elevador em direção ao andar onde estava seu tio. No caminho ele começou a pensar que há muito tempo não pronunciava o nome completo de seu tio. Principalmente pelo primeiro nome, o qual seu tio odiava ser chamado. Gostava mais, e se apresentava como Adam. Clark nunca fora de sua aprovação.
Ao chegarem ao andar desejado, encontrou o doutor no corredor conversando com uma enfermeira. Percebeu que estava no corredor que dava acesso à UTI. Sua preocupação então tomou forma novamente.
Ah você chegou! Exclama ao vê-lo.
Sim doutor. Vim o mais rápido que pude. E então, como está meu tio?
Bom, vamos até aquela sala que poderemos conversar melhor. Fala apontando para uma sala que havia um letreiro em sua porta dizendo ‘Sala Médica’.
Adentraram e logo após o médico fechou a porta. Lá dentro havia uma mesa com uma cadeira de um lado e duas do outro. Parecia um consultório médico como qualquer outro.
Não me estranhe doutor, mas essa sua atitude está me deixando um pouco mais nervoso. Explica Steve.
Bom, primeiramente acho que você fez bem em trazer uma acompanhante. Quem é ela por falar nisso?
Meu nome é Tânia. Sou a namorada de Steve. Diz esticando a mão a fim de cumprimentá-lo.
Ah! Muito prazer. Sou o Doutor Sam, mas creio que seu namorado já falara de mim. Mas enfim, voltando ao assunto, creio que não tenho boas notícias para você Steve.
Steve sente seu coração apertar com aquela frase.
O que houve Doutor? Meu tio piorou? Diz enquanto se senta numa das cadeiras e Tânia na outra ficando ambos de frente para o médico.
Não, não é isso. O estado do seu tio continua o mesmo. Ele não piorou e, infelizmente, nem melhorou. O fato é que fizemos novos exames para estudar melhor o caso de seu tio como lhe prometi, e as respostas que obtive não foram das melhores.
Tânia segura firme a mão de Steve.
Seu tio realmente possui um câncer no cérebro. A boa notícia é que ele é benigno, mas a má é que ele tem grandes evidências de vir a se tornar maligno devido ao seu comportamento. Para que possamos excluir toda essa hipótese de risco de vida, teremos que submetê-lo a uma intervenção cirúrgica para a remoção dessa massa que está começando a afetar todo o lobo direito do cérebro de seu tio. Isso é claro, precisará ser feito em outra cidade como havia lhe falado ontem. Quanto ao transporte, já conseguimos providenciar e está tudo certo sobre este assunto. O que nos toma tempo de decisão agora é sobre os custos.
Como assim Doutor? Indaga Tânia.
Bem, como disse ao seu namorado ontem, existia uma grande chance de Adam passar por uma cirurgia delicada, por esse motivo ela é de um valor muito exorbitante, e nosso sistema de saúde pública do hospital não consegue arcar com esse valor. O plano de saúde também não oferece nenhum benefício por tamanho procedimento. Infelizmente, isso cabe à família arcar com todos os custos e despesas médicas e hospitalares. Sei que não é nenhuma decisão fácil, mas infelizmente não podemos fazer nada quanto a isso. Eu lamento muito.
A notícia explode na face de Steve. Era como se o médico estivesse dizendo que a vida de seu amado tio estivesse em suas mãos. Cabia a ele decidir se seu tio viveria ou morreria. Tânia assume uma feição de ódio pelo médico, como se ele não quisesse ajudar por opção.
E de quanto estamos falando Doutor? Coloquemos os valores no papel para se ter uma noção mais real desse ‘problema’. Exclama Tânia.
Bem, com a cirurgia, materiais utilizados, equipe médica, despesas hospitalares e alimentação... Acredito na faixa de 50.000,00. Não mais, nem menos que isso.
O quê? Você está maluco?! Tânia solta um grito de insatisfação.
Steve cai em lágrimas novamente. Estava desesperado. Não fazia ideia de onde pudesse arrumar tanto dinheiro assim.
Sinto muitíssimo mesmo. Diz o médico tentando acalmar os ânimos.
E quais as chances de cura de meu tio depois que fizer essa tal cirurgia? Indaga Steve em soluços.
A recuperação de seu tio será quase que total. Ele terá grandes chances de viver por muito mais tempo. Como disse, o tumor ainda é benigno, por isso é de vital importância que o retiramos antes de tornar-se um problema ainda maior. Em seu estado atual, a tendência é piorar o caso.
Compreendo. Assente Steve. Vou ver o que posso fazer Doutor. Procurarei um banco e tentarei algum empréstimo.
Steve sabia que seria uma tentativa inútil, pois já havia inúmeros empréstimos feitos pela empresa que ainda precisavam ser pagos. O banco não liberaria mais crédito. Ainda mais desse valor vultoso. Tânia sabia disso também, era ela quem mexia com as finanças durante as férias de Evelyn.
De qualquer forma, estarei sempre aqui para tentar ajudar e retirar dúvidas.
Só tentar não ajuda, Doutor. Steve pensa.
Tudo bem. Por hora agradeço a atenção e preocupação com meu tio. Até mais. Diz levantando-se da cadeira e despedindo-se. Tânia faz o mesmo.
No caminho de volta para o elevador, Tânia percebe Steve envolto em uma sobra de dúvidas e incertezas. Não sabia o que poderia fazer para salvar o tio. Ele era o retrato vivo do desespero naquele momento.
O elevador estava dois andares abaixo. Tânia estica o braço apertando o botão para chamá-lo, pois Steve estava sem reação alguma. Por muito conseguia apenas caminhar rumo ao horizonte e com a cabeça baixa o suficiente para ver somente seus pés se movimentarem alternadamente durante seu caminhar.
O elevador chega ao andar. As portas se abrem. Os dois adentram em um silêncio absoluto. Era mórbida aquela situação. Tânia novamente estica seu braço procurando o botão do térreo. As portas se fecham e eles partem dali.
A meio caminho do fim, Tânia se volta a Steve quebrando aquele silêncio aterrorizador. Você sabe aonde nós podemos conseguir esse dinheiro, não sabe?!
Steve, ainda de cabeça baixa fitando seus pés, apenas sussurra aquilo que jamais poderia se imaginar fazendo. A pedra do demônio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário