Impossível!
Isso não pode estar acontecendo! Só pode ser mentira! Meu tio não
vai morrer! Steve se exaltara com
aquela notícia devastadora. Não podia acreditar que seu tio estava com câncer. Não
queria aceitar.
Calma,
rapaz. Diz o médico tentando acalmar Steve.
Ninguém está dizendo que ele irá morrer.
Alguns enfermeiros, ao ouvirem aqueles
gritos, adentram a sala de espera no intuito de acalmarem o jovem garoto. Até,
se preciso, imobilizá-lo.
Steve começa a se acalmar. Percebeu que,
além de estar em menor número, seria inútil confrontar a pessoa que lhe trouxe
tal notícia, pois ele nada tinha haver com o problema. Tratava-se apenas do
portador da informação.
O
que vocês podem fazer por ele? Questiona Steve.
Bem,
ainda não sabemos. Responde o doutor.
Mas pelo que descobrimos até agora, essa massa em seu crânio possui um tamanho
preocupante. Precisamos examinar mais antes de tomar qualquer decisão, mas já
adianto que é bem provável que seja preciso uma cirurgia.
Não
tem problemas Doutor. Farei o que for preciso para ajudar meu tio.
Pois
é... Explana o médico. Esse é o problema.
Steve esboça uma feição de dúvida. Não entendera o que
aquele homem quis dizer. Como assim? Qual
é o problema Doutor?
É
que, para casos como esse, nós não temos as ferramentas adequadas, nem sequer uma equipe
apta para essa cirurgia. Fora que se trata de um procedimento de altíssimo
custo.
Ele terá de ser operado na cidade
vizinha. Isso é claro se for concluído que ele pode ser transportado sem nenhum
risco à sua saúde e a sua vida. Caso não possa, eu temo pelas consequências. O Doutor assente. Eu
lamento muito.
Aquelas palavras resoavam dentro de Steve. Meu tio está morrendo... Não posso acreditar
nisso. Preciso fazer alguma coisa e rápido!
De imediato,
sugiro que vá para casa e descanse. Prometo que amanhã terei mais notícias
sobre o seu tio.
Steve não acreditava naquela cruel situação. Mal
sequer poderia se imaginar descansando enquanto seu tio necessitava de ajuda,
mas naquele atual estado, sabia que não iria ajudar em nada. Decidiu por fim
aceitar o conselho do médico e voltou para casa em busca de uma cama bem
acolchoada para findar aquele fatídico dia.
No caminho de volta, pensara no que Fred dissera. Na
situação de seu tio e na tal cirurgia de extremo valor que o médico falara que
seu tio poderia precisar.
Seus pensamentos estavam todos embaralhados e
desfocados. Já não sabia definir o certo do errado, e tinha medo do amanhã chegar. Não
queria ter que encarar toda aquela realidade.
Quando chegou, mal percebia seus movimentos. Fazia
tudo como se fosse um robô programado. Apenas se deu conta que estava em casa
quando se deitou em sua cama. Não quis pensar em mais nada naquele momento. Nem
sequer pensou em notificar Tânia do ocorrido. Faria isso depois. Por hora,
queria apenas fechar os olhos e embalar-se naquele sono, e assim o fez.
No dia seguinte, procurou Tânia. Precisava sentir um
conforto, e sua namorada era a mais propícia naquele momento.
Quando chegou à sua casa, viu Tânia sentada na
varanda. Tinha um olhar distante. Mal percebeu a presença de Steve.
Amor? Diz Steve atraindo Tânia de volta à realidade.
Oi. Responde recobrando-se. Steve! Graças a Deus! Estava preocupada com você. Onde esteve? Liguei
por várias vezes, mas ninguém atendia. Fiquei preocupada.
Estava no
hospital. Responde sentando-se ao seu
lado. Os ombros baixos. Tronco curvado e cabeça baixa. Não conseguia ergue-la.
Hospital? Tânia se espanta. O
que houve com você? Está tudo bem? Você está se sentindo bem? Tânia
descarrega uma chuva de interrogações.
Calma, Tânia.
Eu estou bem, mas meu tio... Steve se
conteve. Não conseguiu terminar.
O que houve
com seu tio? Porque ele está no hospital? Tânia teme o pior.
Steve sente a cabeça pesar ainda mais. Seus olhos
começam a se tornar rios correntes. Começa a sentir seu rosto se molhar todo
pelas lágrimas.
Steve, meu
Deus. Você está me deixando preocupada!
Tânia já estava começando a ficar impaciente.
Câncer! Consegue responder.
O quê? Não
entendi! Questiona.
Meu tio tem
câncer, Tânia.
A noticia caiu como uma bomba sobre Tânia.
Quando
cheguei em casa ontem, encontrei meu tio estirado no chão. A ambulância já
estava lá. Ele conseguiu tempo para chamá-la. Fomos correndo para o hospital.
Lá, meu tio fez uma bateria de exames. De sangue, tomografia, raios-x... Em um
desses exames foi evidenciado um acúmulo de massa em seu crânio. A tomografia
foi laudada, e o médico radiologista disse que se tratava de um câncer.
Como é?! Tânia estava incrédula. O tio Adam, como gostava de
chamá-lo, sempre praticou exercícios físicos, alimentava-se direito. Só começou
a prática desregular dos exercícios depois que chegou a uma certa idade. Isso
quem sempre dizia era Steve.
O médico
disse que hoje eu poderia voltar lá que ele teria novas noticias, mas estou com
medo do que ele possa me falar. Preciso de você. Steve estava com os olhos já vermelhos de tantas
lágrimas que escorriam. Você poderia ir
comigo ouvir o que o médico tem a dizer?
Claro! Tânia responde prontamente. Jamais o deixaria só nessa situação, meu amor.
Obrigado. Não
sei o que seria de mim sem você...
Tânia o ajuda a enxugar as lágrimas e a se recompor.
Ela o abraçou fortemente. Ele pode sentir todo o calor do corpo dela percorrer
pelo seu. Depois, ela o fez recostar sua cabeça sobre seu colo no intuito de
acalmá-lo antes de irem ao hospital.
Sempre
estarei contigo. E se Deus quiser, seu tio sairá dessa. Tânia possuía um apreço muito grande por Adam. Podia
sentir a dor que Steve sentia naquele momento.
Steve por sua vez, apenas se deixava embalar naquele
momento à procura de uma paz momentânea. Depois era se preparar para um
possível caos, pois sentia que as notícias que o médico traria não seriam de
tão agrado.
Sentados ali há quase quarenta minutos, Steve decide
se levantar e ir ao encontro do Doutor. Tânia, obviamente, iria com ele para
lhe dar apoio.
Entraram no carro e partiram dali. O percurso todo foi
feito no mais absoluto silêncio. A tensão era grande demais naquele momento.
Ao chegarem ao hospital, Steve sentiu suas pernas
perderem força. Tânia o segurou na mão e caminharam juntos pelas escadas até a
entrada principal.
Lá dentro, uma recepcionista os atenderam.
Vim ver meu
tio que está internado. Clark Adam Ningodoubt.
Este sobrenome era inconfundível. Todos o conheciam
devido à sua empresa Ningodoubt Design. Logo, a atendente forneceu-lhe um
crachá de identificação e autorizou sua passagem.
Tomaram o elevador em direção ao andar onde estava seu
tio. No caminho ele começou a pensar que há muito tempo não pronunciava o nome
completo de seu tio. Principalmente pelo primeiro nome, o qual seu tio odiava
ser chamado. Gostava mais, e se apresentava como Adam. Clark nunca fora de sua
aprovação.
Ao chegarem ao andar desejado, encontrou o doutor no
corredor conversando com uma enfermeira. Percebeu que estava no corredor que
dava acesso à UTI. Sua preocupação então tomou forma novamente.
Ah você
chegou! Exclama ao vê-lo.
Sim doutor.
Vim o mais rápido que pude. E então, como está meu tio?
Bom, vamos
até aquela sala que poderemos conversar melhor. Fala apontando para uma sala que havia um letreiro em
sua porta dizendo ‘Sala Médica’.
Adentraram e logo após o médico fechou a porta. Lá
dentro havia uma mesa com uma cadeira de um lado e duas do outro. Parecia um
consultório médico como qualquer outro.
Não me
estranhe doutor, mas essa sua atitude está me deixando um pouco mais nervoso. Explica Steve.
Bom,
primeiramente acho que você fez bem em trazer uma acompanhante. Quem é ela por
falar nisso?
Meu nome é
Tânia. Sou a namorada de Steve. Diz
esticando a mão a fim de cumprimentá-lo.
Ah! Muito
prazer. Sou o Doutor Sam, mas creio que seu namorado já falara de mim. Mas
enfim, voltando ao assunto, creio que não tenho boas notícias para você Steve.
Steve sente seu coração apertar com aquela frase.
O que houve
Doutor? Meu tio piorou? Diz enquanto
se senta numa das cadeiras e Tânia na outra ficando ambos de frente para o
médico.
Não, não é
isso. O estado do seu tio continua o mesmo. Ele não piorou e, infelizmente, nem
melhorou. O fato é que fizemos novos exames para estudar melhor o caso de seu
tio como lhe prometi, e as respostas que obtive não foram das melhores.
Tânia segura firme a mão de Steve.
Seu tio
realmente possui um câncer no cérebro. A boa notícia é que ele é benigno, mas a
má é que ele tem grandes evidências de vir a se tornar maligno devido ao seu comportamento.
Para que possamos excluir toda essa hipótese de risco de vida, teremos que
submetê-lo a uma intervenção cirúrgica para a remoção dessa massa que está
começando a afetar todo o lobo direito do cérebro de seu tio. Isso é claro,
precisará ser feito em outra cidade como havia lhe falado ontem. Quanto ao
transporte, já conseguimos providenciar e está tudo certo sobre este assunto. O
que nos toma tempo de decisão agora é sobre os custos.
Como assim
Doutor? Indaga Tânia.
Bem, como
disse ao seu namorado ontem, existia uma grande chance de Adam passar por uma
cirurgia delicada, por esse motivo ela é de um valor muito exorbitante, e nosso
sistema de saúde pública do hospital não consegue arcar com esse valor. O plano
de saúde também não oferece nenhum benefício por tamanho procedimento.
Infelizmente, isso cabe à família arcar com todos os custos e despesas médicas
e hospitalares. Sei que não é nenhuma decisão fácil, mas infelizmente não
podemos fazer nada quanto a isso. Eu lamento muito.
A notícia explode na face de Steve. Era como se o
médico estivesse dizendo que a vida de seu amado tio estivesse em suas mãos.
Cabia a ele decidir se seu tio viveria ou morreria. Tânia assume uma feição de
ódio pelo médico, como se ele não quisesse ajudar por opção.
E de quanto
estamos falando Doutor? Coloquemos os valores no papel para se ter uma noção
mais real desse ‘problema’. Exclama
Tânia.
Bem, com a
cirurgia, materiais utilizados, equipe médica, despesas hospitalares e
alimentação... Acredito na faixa de 50.000,00. Não mais, nem menos que isso.
O quê? Você
está maluco?! Tânia solta um grito de
insatisfação.
Steve cai em lágrimas novamente. Estava desesperado.
Não fazia ideia de onde pudesse arrumar tanto dinheiro assim.
Sinto
muitíssimo mesmo. Diz o médico
tentando acalmar os ânimos.
E quais as
chances de cura de meu tio depois que fizer essa tal cirurgia? Indaga Steve em soluços.
A recuperação
de seu tio será quase que total. Ele terá grandes chances de viver por muito
mais tempo. Como disse, o tumor ainda é benigno, por isso é de vital
importância que o retiramos antes de tornar-se um problema ainda maior. Em seu
estado atual, a tendência é piorar o caso.
Compreendo. Assente Steve. Vou
ver o que posso fazer Doutor. Procurarei um banco e tentarei algum empréstimo.
Steve sabia que seria uma tentativa inútil, pois já
havia inúmeros empréstimos feitos pela empresa que ainda precisavam ser pagos.
O banco não liberaria mais crédito. Ainda mais desse valor vultoso. Tânia sabia
disso também, era ela quem mexia com as finanças durante as férias de Evelyn.
De qualquer
forma, estarei sempre aqui para tentar ajudar e retirar dúvidas.
Só tentar não
ajuda, Doutor. Steve pensa.
Tudo bem. Por
hora agradeço a atenção e preocupação com meu tio. Até mais. Diz levantando-se da cadeira e despedindo-se. Tânia
faz o mesmo.
No caminho de volta para o elevador, Tânia percebe
Steve envolto em uma sobra de dúvidas e incertezas. Não sabia o que poderia
fazer para salvar o tio. Ele era o retrato vivo do desespero naquele momento.
O elevador estava dois andares abaixo. Tânia estica o
braço apertando o botão para chamá-lo, pois Steve estava sem reação alguma. Por
muito conseguia apenas caminhar rumo ao horizonte e com a cabeça baixa o
suficiente para ver somente seus pés se movimentarem alternadamente durante seu
caminhar.
O elevador chega ao andar. As portas se abrem. Os dois
adentram em um silêncio absoluto. Era mórbida aquela situação. Tânia novamente
estica seu braço procurando o botão do térreo. As portas se fecham e eles
partem dali.
A meio caminho do fim, Tânia se volta a Steve
quebrando aquele silêncio aterrorizador. Você
sabe aonde nós podemos conseguir esse dinheiro, não sabe?!
Steve, ainda de cabeça baixa fitando seus pés, apenas
sussurra aquilo que jamais poderia se imaginar fazendo. A pedra do demônio.
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