Capítulo XI

       Durante os dias que antecederam a chegada da pedra, os três elaboraram vários planos que poderiam levá-los à vitória, mas todos pareciam conter falhas descomunais. Encontravam-se sempre ao entardecer no parque onde costumavam frequentar para tomar gim e ficavam por horas a fio. Muitas vezes saiam de lá já ao amanhecer. Decidiram não se encontrar no Veteran’s, pois se tratava de um local com muitas pessoas reunidas, e que definitivamente não seria o melhor local para se traçar um plano desse nível. No último dia de planejamento, passaram todos juntos. Não dormiram, mal sequer comeram. Estavam ficando sem ideias e o tempo parecia passar cada vez mais rápido. Parecia que não iria funcionar todo aquele esforço.
Após tantos planos infalíveis falíveis e algumas noites sem dormir, finalmente conseguiram chegar a um acordo e esquematizaram aquele que seria utilizado para tal fim.
Fred frequentou o museu todos os dias que se seguiram. Sempre utilizava a mesma desculpa de que esquecera de entregar uma correspondência e/ou aproveitava o tempo entre uma entrega e outra para fazer uma visita ao museu e aproveitava para analisar as instalações. Vistoriava cada bloco daquele prédio olhando minuciosamente cada salão. Observava a movimentação de pessoas que visitavam o museu e também de alguns homens que estavam instalando as câmeras de vigilância. Provavelmente aquelas que seriam utilizadas para a proteção da pedra.
Alguns homens também mexiam naquelas que já havia antes. De certo estavam realizando a manutenção destas para também serem utilizadas. Observou o movimento dos guardas, e seus respectivos horários da troca do plantão. Tudo fora muito bem analisado.
Percebeu que disponibilizaram uma sala pequena só para a aparelhagem de vídeo. Tudo estava em seu devido lugar. Enquanto isso, Steve pesquisava informações sobre sistemas de vigilância por via satélite. Tânia ficou incumbida de adquirir os materiais necessários para o roubo. Procurava manter as aparências para que ninguém percebesse.
                O sistema de vigilância começou a funcionar um dia antes da data prevista para chegada da joia. Steve aproveitou este tempo para tentar conhecer o sistema utilizado naquele museu. Sabia que teria apenas uma única chance de invadi-lo, e torcer para não ter seu endereço IP detectado e rastreado. Isso levaria os policiais diretamente ao núcleo da empresa de seu tio, o que o deixaria em maus lençóis. Poria em risco seu tio, aquele que tanto o ajudou a crescer profissionalmente e que agora ele estava o esfaqueando por trás. Fora o tamanho desgosto que iria lhe causar. Se não morresse pelo câncer, certamente seria por vergonha.
        Finalmente veio o dia da chegada da tal valiosa pedra na pequena cidade interiorana. Seu transporte estava sendo mais escoltado que qualquer outra coisa. Ninguém daquela cidade entendeu o que estava acontecendo quando viram passar por aquelas ruas estreitas, tamanho comboio de carros e motos. Havia em torno de quatro carros, fora o que transportava a pedra e mais quatro motos. Era quase um desfile em passeata.
Quando souberam que já havia chego quem esperavam na cidade, eles logo se encontraram na praça em frente ao museu. Puseram-se em um local bem próximo de onde era possível ver nitidamente os carros pararem de frente com o portão principal do prédio. Os carros pararam quase que simultaneamente. Vários guardas desceram e se dispuseram um ao lado do outro formando um corredor humano que levava numa única direção. Da entrada principal, até a sala com uma placa de entrada restrita. A sala de registros e catalogação do museu.
De repente, um dos guardas desembarcou empunhando uma pequena caixa. Seu tamanho era quase duas vezes maior que um punho cerrado, mas, por mais absurdo que fosse, a caixa era transparente. Foi possível visualizar um lindo brilho roxo causado pelo sol que a acariciava que emanava daquela caixa. Era um brilho intenso, vivo.
Um dia. Disse Fred. Teremos somente essa madrugada para agir. Temos que deixar tudo pronto. Não podemos falhar.
Muitas pessoas curiosas seguiram aquele comboio a fim de descobrir do que se tratava.  Afinal, nunca viram tanta movimentação assim antes.
Quando souberam que os carros pararam em frente ao museu, uma multidão se aglomerou em volta. Os seguranças do museu e os guardas da escolta tiveram certa dificuldade em mantê-los afastados, mas nenhum tumulto aconteceu. Eram apenas curiosos.
Alguns perguntavam aos guardas do cordão o que estava acontecendo, mas poucos respondiam. Era procedimento de segurança que não soubesse de nada, mas inútil a julgar pelo fato do tamanho espanto que causavam quando chegavam aos lugares.
Fred ficou um pouco tenso ao saber do curto tempo que teriam para agirem, mas de certo isso já era esperado.
Voltaram para o prédio de Adam e subiram até a cobertura. Eles passaram o dia inteiro lá. Como ele era um dos poucos prédios relativamente alto, sua vista era consideravelmente ampla se comparada às outras, e tinha, com ajuda de um binóculo, uma visão razoável do museu. Um dos benefícios também, é que havia uma pequena parte coberta que servia como um pequeno jardim que Dona Justina cuidava das suas plantinhas. Eram suas companheiras de todas as horas, ela dizia. Ficaram ali em meio às plantas. Isso lhes forneceu pequena camuflagem e um abrigo do sol. Ficaram analisando a movimentação de guardas e seus turnos. Eles perceberam que havia uma demora na troca dos postos, a cada quatro horas corridas, que levavam em media quinze minutos. A vigilância direta na joia ficava parcialmente aberta. Era só uma questão de cronometrar e tudo daria certo.
O sol escaldante queimava o chão daquela cobertura. Fred parecia focado e determinado olhando através dos binóculos. Tânia estava impaciente. Não via a hora de agir. Já Steve, era o que mais brigava com suas raízes. Seu tio não saia de seus pensamentos, mas sabia que na hora certa, ele não poderia se deixar levar. Teria que manter sua mente focada, se não tudo estaria perdido. Tânia decidiu sair em busca de alimentos suficientes para aguentarem o dia inteiro ali.
A noite chegou. Tudo já estava preparado e separado. Faltava somente o comando para iniciarem. Fred voltou-se para Steve e Tânia. Está na hora. Tânia, você vem comigo. Steve, faça o que você faz de melhor.
Os três desceram da cobertura e voltaram para o escritório.
Ok. Hora de agir. Temos que ser rápidos e sincronizados. Qualquer coisa, vocês sabem onde se encontrar. Diz Fred ao casal pegando algumas coisas que poderiam lhe ser útil e voltando-se para Tânia. Vamos. Steve ficou. Foi até sua mesa que ficava próximo a janela, puxou sua cadeira e ligou o computador. Fred e Tânia desceram as escadas passando pela porta e se dirigindo à praça onde estavam mais cedo.
Steve começou seu digitar frenético naquele teclado de computador. Sua mente ainda não estava limpa para poder realizar seu maior feito. Seu tio ainda vagava em seus pensamentos. O que ele iria pensar de mim? Será que entenderia que estou fazendo isso por ele? Só por ele?       Próximo dali estavam Fred e Tânia a caminho do museu que ficava a poucos quarteirões.
Quando era próximo dos ponteiros do velho relógio no pulso de Steve apontar duas e meia da manhã, ele já estava em sua tentativa de acessar o sistema de câmeras. Como a janela da sala onde Steve estava era possível avistar a entrada do museu e suas adjacências, Fred e Tânia aguardariam um sinal visual de Steve, o qual este seria feito por uma lanterna.
        Quando estavam em frente ao museu, Fred e Tânia aguardavam o tal sinal indicando que conseguiu invadir o sistema.
Só espero que ele consiga. Fred questiona.
Claro que ele consegue! Retruca. Steve nunca me decepcionou. Nem como namorado, nem como ‘burlador’ de sistemas.
É, mas você já é de se decepcionar, não é?! Completa.
Tânia franze o cenho de raiva daquelas palavras de Fred, mas sabia que ele estava certo. Aquela certeza foi o que mais a irritou.
Um frio congelante daquela noite parecia distrair ainda mais os guardas. Isso foi muito bem vindo. Pensava Fred.
Steve estava suando frio. O bater frenético de seus dedos no teclado. Os olhos vidrados naquele monitor. Era possível ouvir seu coração pulsar alucinadamente.
Droga. Estou demorando demais! Ah, tio. Se o senhor não estivesse nessas condições...
Sua mente estava inquieta. Olhava a toda instante a hora correr pelos ponteiros de seu relógio de pulso. Estava quase desistindo.
Esse sistema é complexo demais para mim. Não consigo quebrar essas chaves decodificadas. Que tipo de sistema é esse, meu Deus?!
Quando era quase três horas da madrugada, Steve finalmente conseguiu invadir.
Ah! Exclama Fred olhando o sinal pela janela. Finalmente. Achei que ele não seria capaz.
Claro que ele é capaz. Eu te falei! Diz Tânia.
Está bem. Vamos agir. Fred diz levantando-se do banco onde estavam sentados e caminhando contornando o museu e parando em um ponto onde se via um dos guardas na entrada principal.
Ufa! Pensa Tânia. Também achei que não fosse conseguir.
Os guardas começaram a se movimentar. O turno estava sendo trocado. Agora era a hora de executar o plano.
Bem na hora! Completa Fred.
Seguiram um dos guardas até a entrada de serviço lateral. Ele parou em frente à porta, puxou o molho de chaves e começou a passar os dedos por elas. Uma a uma. Estava procurando a que o faria adentrar e fugir um pouco daquele frio. Fred e Tânia nem sentiam este frio de tanta adrenalina no sangue naquela hora. Posicionaram-se bem atrás do guarda, no meio de uma moita alta. O guarda nem notou sua presença. Estava mais preocupado em avistar a chave e sair do ar gélido da noite.
Quando ele finalmente acertou a chave, Fred sai de seu esconderijo e rende com um mata leão aquele guarda distraído.
Eles adentram o museu. Tânia encontra uma pequena sala de materiais de limpeza, e lá, ela encontrou uma fita prateada. Grossa e resistente. Era tudo o que precisava. Prendeu as pernas e os braços do guarda contra suas costas e o tapou a boca. Ele mal podia se mexer ou falar. Roubou-lhe o molho de chaves e o jogou para dentro daquela sala apertada como se fosse um saco de lixo grande e pesado, e o trancou.
Em seguida, os dois foram até a sala de arquivos, que era a sala onde a joia se encontrava trancada a sete chaves.
Chegando lá, Fred puxou aquele molho de chaves do guarda e tentou uma a uma enquanto Tânia ficava de guarda.
Que bom que acho que não vou precisar usar as ferramentas que trouxe para abrir essa porta. Pensou Fred.
Steve observava tudo atentamente pelo computador. Tinha acesso às câmeras de vigilância.
Anda logo com isso Fred! Dizia Tânia já impaciente olhando para o relógio. Daqui a pouco chega alguém.
Calma! Sussurrava. Estou quase conseguindo.
Por fim, a porta recebeu a chave correta. Isso! Consegui!

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