Retornou à realidade num
susto. Quando deu por si, ainda estava em
frente ao hospital. Lembrara-se das palavras de Fred e começou a caminhar rumo
ao local onde Tânia supostamente estaria. Começou a dar passos rápidos. Seus
pensamentos estavam a mil. Queria uma resposta.
Sua ansiedade era tanta que não percebera que estava
sendo seguido.
Chegou até a destilaria abandonada. Havia um carro
estacionado nos fundos. Era de Fred. Logo percebera que Tânia poderia estar lá.
Adentrou pela porta entreaberta e passou pelo galpão até as escadas. Tudo
parecia quieto demais. Era normal, pois se tratava de um local abandonado,
porém aquele silêncio o aterrorizava por dentro.
Subiu aquelas escadas a passos lentos sempre e
observando tudo ao seu redor. Tinha a impressão de que estavam a sua espera.
Quando
chegou ao ultimo degrau, percebeu uma movimentação numa sala a sua frente. Não
conseguia ver quem era, mas notava sua sombra pela parede andando de um lado a
outro. Aquele ser parecia estar apreensivo. Às vezes tinha a impressão de haver
duas sombras, mas estavam turvas demais aquelas imagens. Não sabia se tratava
de uma mera ilusão ou de realmente mais um ser naquela sala.
Aproximou-se
minuciosamente até colar seu corpo na porta. Encolheu-se e estendeu seu pescoço
passando os olhos pela sala até avistar uma mulher de costas para a porta, mas
de frente para uma janela.
Era inconfundível aquele corpo cheio de curvas
delicadamente feitas sob medida e com aqueles lindos cabelos negros. Vestia uma
blusa branca sem manga e uma calça jeans surrada e bem apertada. Era Tânia. Assumiu
então uma atitude mais decidida colocando-se em posição mais ereta possível,
estufou o peito e adentrou àquela sala esticando seu braço empurrando a porta
com uma vivacidade que nem ele se dera conta da força que tinha esmurrando-a
contra os tijolos.
Ao ouvir
o barulho da porta se jogando à força contra a parede mofada, Tânia se virou
num susto e se deparou com Steve parado frente à porta, encarando-a friamente. Possuía
uma feição um tanto quanto indignada, mas não quis dar muita atenção a isso.
Steve! Que bom vê-lo! Procurei-o em toda a parte.
Aonde você se meteu?! Fiquei tão preocupa...
Tânia, o que aconteceu depois que saíram daquele museu
com a pedra? Steve a interrompeu com
uma pergunta direta.
Como assim Steve? Você se esqueceu do
que aconteceu? Quase fomos pegos! Tivemos que despistar aqueles seguranças, e
depois chegou a polícia. Fred e eu procuramos um local para nos refugiar até a
situação tomar proporções menores a ponto de conseguirmos sair de onde
estávamos. Enterramos aquela coisa. Temos que pegá-la antes que seja tarde
demais.
E por que você atirou no Fred? Ele me disse que você
não havia aceitado minha decisão por ter desistido. Disse que você queria
atirar em mim e ele me defendeu. E foi quando você o acertou na barriga.
Ele disse isso? Tânia assumiu uma face de desconfiança. O que mais
ele disse?
Ela nota em Steve um
semblante de ira misturado a medo.
Steve não confie nele, você sabe que ele é ótimo em
induzir pessoas ao erro.
Neste momento eles escutam um barulho de um bastão de
ferro cair no chão. Vinha da parte inferior do prédio, próximo às escadas.
O que foi isso? Tânia indaga.
Acho que fui seguido. Steve fala com ar de
surpreso.
Começou a olhar ao redor da
sala planejando algo. Dirigiu-se até a janela. Alto demais. Pensou. Lá
fora havia muito mato alto e uma grande árvore cheia de frutos. Pareciam
mangas. Notou que em um certo ponto logo abaixo da janela, uma parte do mato
estava baixo. Como se alguém tivesse pulado e caído com tudo sobre ele
amaciando sua queda, entretanto deixando-o todo amassado. Os passos estavam
cada vez mais próximos de onde eles estavam.
Voltou seus olhos para
dentro da sala avistando uma mesa às traças no centro da sala.
Esconda-se atrás daquela mesa. Ficarei ali atrás da
porta. Quem entrar aqui, o surpreendo pelas costas. Steve sussurra para Tânia que prontamente faz o que
ele ordena.
Os dois,
agora posicionados fora de visão, se preparam para a visita inesperada.
Steve fica imóvel atrás da porta aguardando o tal visitante passar por ele.
Um par de pés adentra a sala e, antes que o invasor
se desse por conta da situação que se metera, Steve o surpreende pelas costas
imobilizando-o.
Steve, o que esta fazendo? Droga, você está me
machucando!
Fred? Steve
lança um olhar atônito.
Tânia subitamente se levanta por detrás da mesa
incrédula ao ver Fred de pé e sozinho naquele lugar.
O que você está fazendo aqui? Você não estava quase
morto no hospital? Questiona Steve.
Oras, você não me conhece mesmo não é Steve?! Fred sorri com leve tom irônico para ambos. Olhou Tânia
ainda imóvel. Olá Tânia! Feliz em me ver?
Steve percebe um estranho suspense
pairar naquele lugar.
Steve, eu tive que segui-lo, pois não
tinha ideia de onde ela poderia estar. Fred responde Steve, mas ainda fitando Tânia. Sim, estou muito
ferido, mas não poderia deixar de encontrar Tânia.
Mas o que esta acontecendo aqui? Steve estava completamente confuso.
Perdão
Steve, mas devo ser o portador de más noticias. Tânia, sua querida namorada
queria eliminá-lo para sobrar mais dinheiro na venda da pedra.
Como é que é?! Tânia
parece indignada. Como você pode contar tamanha mentira! Era você quem
queria eliminá-lo e armou aquela cilada para ele na estação de trem. Você
queria empurrá-lo nos trilhos! Tânia
começa a gritar apontando o dedo ferozmente em direção ao Fred.
O quê?! Steve parece assustado
com tantas revelações em tão pouco tempo.
É
isso mesmo! Você sabe que é tudo verdade. Você não passa de um ladrão descarado
que precisava de cobaias para assaltar por você! Tânia começa a gritar
descaradamente. Ele – Tânia fala a
Steve ainda apontando para Fred – é um vigarista. Ele nos usou para
conseguir o que queria. Só que tudo se perdeu quando ele tentou me induzir a
matá-lo e fugir com ele e a pedra para outro país. Eu tentei impedi-lo e
aconteceu o que já sabemos. Ele tinha um plano para te fazer ir até a estação e
me ver atirando nesse safado. Queria que eu atirasse em seu ombro e dessa forma
ele faria você pensar que eu quisesse eliminar vocês dois para fugir com a
pedra sozinha. Mas eu reagi.
No último momento neguei seu plano e então nós
começamos a brigar até que a pistola disparou atingindo-o na barriga. Não foi
minha intenção atirar em ninguém. Eu fugi no mesmo instante, pois sabia que
você viria e eu lhe conheço, sei que você estava atordoado demais. Se visse
aquela cena, mesmo que me amasse, ficaria na dúvida sobre a verdade ou não. Só
que Fred sabia que cedo ou tarde iríamos nos encontrar, e tinha medo de seus
planos irem por água abaixo. Somente eu e ele sabíamos onde estava enterrada a
pedra. Tenho certeza de que ele te seguiu só para me encontrar e nos eliminar.
Dessa forma ele reaveria a pedra e fugiria daqui milionário.
Steve estava atordoado com
aquela chuva de revelações caindo como canivetes afiados sobre seu corpo.
Desculpe-me Steve, sei que nem deveria ter aceitado nada
desse sujeito e acabei traindo sua confiança. Talvez não mereça seu perdão, mas
você sabe que tudo que fiz foi por amor. Pelo seu amor!
Steve
sentiu como se uma bomba explodisse em sua face. Tânia parecia ter razão. Suas
palavras possuíam uma certeza incrédula. Era uma certeza que não poderia ser
questionada. Fred estampava uma face de ódio por aquelas palavras de Tânia, e
quando ela terminara de falar, ele puxou uma pistola por debaixo do casaco e
apontou para os dois. Tânia e Steve ficaram paralisados. Tânia enfim estava
certa. Steve pensara. Ambos estavam agora na mira daquele lunático, e ele
parecia decido a por um fim naquela situação.
Bem, eu não queria isto, mas você
pediu sua vagabunda! Você poderia ter vivido coisas comigo que jamais
imaginaria viver com este pé rapado aí do seu lado. Eu teria lhe dado o mundo!
Agora, que vocês apodreçam juntos!
PARADO! NÃO SE MEXA! Gritam os agentes adentrando ao recinto e subindo as
escadas a passos infinitamente largos. Eles também seguiram Steve, e estavam
próximos quando ouviram a conversa ao meio e assumiram a postura quando
avistaram Fred puxando sua arma e apontando em direção ao Steve. De onde eles
estavam conseguiam avistar dois homens conversando.
O quê? Fred se desconcentra e Steve se joga para cima dele na
tentativa de desarmá-lo. Os dois começam uma luta avassaladora. Não parecia
haver mais ninguém naquela sala, somente os dois se confrontando. O vencedor
sairia com vida. Nada mais importava para ambos.
De repente a arma dispara. Seu projétil vai de
encontro ao peito de Steve, que por sua vez, começa a sangrar muito, sentindo
uma dor feroz, e perdendo suas forças. Assustado com a imagem do amigo
companheiro de assalto, Fred fica imóvel, duro. Sem qualquer movimento. Parecia
ser feito de concreto puro.
Finalmente os agentes chegam à sala e conseguem
rendê-lo.
Tudo bem com você? Um dos agentes
pergunta a Steve.
Sim. Estou. Steve olha ao seu
redor. Vê um dos agentes imobilizar Fred que parecia não se opor.
Aqueles agentes pareciam familiares. Eram James e
Mike. Continuou a passear com os olhos pelo local.
Onde está Tânia? Ele se pergunta.
Fred parecia não se importar mais se Tânia havia ou
não desaparecido daquele local.
Parece que ele o atingiu no ombro,
mas muito próximo ao coração. Venha, vamos chamar uma ambulância para o senhor,
mas já vou adiantando que vocês têm muito o quê explicar sobre essa tal
pedra que roubaram.
Steve olha para um dos
agentes com um ar meio surpreso.
Eles ouviram toda nossa conversa? Steve pensa.
Parece que os pegamos no ato, não é!? Responde Mike.
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