Capítulo XIII

Retornou à realidade num susto. Quando deu por si, ainda estava em frente ao hospital. Lembrara-se das palavras de Fred e começou a caminhar rumo ao local onde Tânia supostamente estaria. Começou a dar passos rápidos. Seus pensamentos estavam a mil. Queria uma resposta.
Sua ansiedade era tanta que não percebera que estava sendo seguido.
Chegou até a destilaria abandonada. Havia um carro estacionado nos fundos. Era de Fred. Logo percebera que Tânia poderia estar lá. Adentrou pela porta entreaberta e passou pelo galpão até as escadas. Tudo parecia quieto demais. Era normal, pois se tratava de um local abandonado, porém aquele silêncio o aterrorizava por dentro.
Subiu aquelas escadas a passos lentos sempre e observando tudo ao seu redor. Tinha a impressão de que estavam a sua espera.
Quando chegou ao ultimo degrau, percebeu uma movimentação numa sala a sua frente. Não conseguia ver quem era, mas notava sua sombra pela parede andando de um lado a outro. Aquele ser parecia estar apreensivo. Às vezes tinha a impressão de haver duas sombras, mas estavam turvas demais aquelas imagens. Não sabia se tratava de uma mera ilusão ou de realmente mais um ser naquela sala.
        Aproximou-se minuciosamente até colar seu corpo na porta. Encolheu-se e estendeu seu pescoço passando os olhos pela sala até avistar uma mulher de costas para a porta, mas de frente para uma janela.
Era inconfundível aquele corpo cheio de curvas delicadamente feitas sob medida e com aqueles lindos cabelos negros. Vestia uma blusa branca sem manga e uma calça jeans surrada e bem apertada. Era Tânia. Assumiu então uma atitude mais decidida colocando-se em posição mais ereta possível, estufou o peito e adentrou àquela sala esticando seu braço empurrando a porta com uma vivacidade que nem ele se dera conta da força que tinha esmurrando-a contra os tijolos.
        Ao ouvir o barulho da porta se jogando à força contra a parede mofada, Tânia se virou num susto e se deparou com Steve parado frente à porta, encarando-a friamente. Possuía uma feição um tanto quanto indignada, mas não quis dar muita atenção a isso.
Steve! Que bom vê-lo! Procurei-o em toda a parte. Aonde você se meteu?! Fiquei tão preocupa...
Tânia, o que aconteceu depois que saíram daquele museu com a pedra? Steve a interrompeu com uma pergunta direta.
        Como assim Steve? Você se esqueceu do que aconteceu? Quase fomos pegos! Tivemos que despistar aqueles seguranças, e depois chegou a polícia. Fred e eu procuramos um local para nos refugiar até a situação tomar proporções menores a ponto de conseguirmos sair de onde estávamos. Enterramos aquela coisa. Temos que pegá-la antes que seja tarde demais.
E por que você atirou no Fred? Ele me disse que você não havia aceitado minha decisão por ter desistido. Disse que você queria atirar em mim e ele me defendeu. E foi quando você o acertou na barriga.
        Ele disse isso? Tânia assumiu uma face de desconfiança. O que mais ele disse?
Ela nota em Steve um semblante de ira misturado a medo.
Steve não confie nele, você sabe que ele é ótimo em induzir pessoas ao erro.
Neste momento eles escutam um barulho de um bastão de ferro cair no chão. Vinha da parte inferior do prédio, próximo às escadas.
        O que foi isso? Tânia indaga.
Acho que fui seguido. Steve fala com ar de surpreso.
Começou a olhar ao redor da sala planejando algo. Dirigiu-se até a janela. Alto demais. Pensou. Lá fora havia muito mato alto e uma grande árvore cheia de frutos. Pareciam mangas. Notou que em um certo ponto logo abaixo da janela, uma parte do mato estava baixo. Como se alguém tivesse pulado e caído com tudo sobre ele amaciando sua queda, entretanto deixando-o todo amassado. Os passos estavam cada vez mais próximos de onde eles estavam.
Voltou seus olhos para dentro da sala avistando uma mesa às traças no centro da sala.
Esconda-se atrás daquela mesa. Ficarei ali atrás da porta. Quem entrar aqui, o surpreendo pelas costas. Steve sussurra para Tânia que prontamente faz o que ele ordena.
        Os dois, agora posicionados fora de visão, se preparam para a visita inesperada. Steve fica imóvel atrás da porta aguardando o tal visitante passar por ele.
Um par de pés adentra a sala e, antes que o invasor se desse por conta da situação que se metera, Steve o surpreende pelas costas imobilizando-o.
Steve, o que esta fazendo? Droga, você está me machucando!
Fred? Steve lança um olhar atônito.
Tânia subitamente se levanta por detrás da mesa incrédula ao ver Fred de pé e sozinho naquele lugar.
O que você está fazendo aqui? Você não estava quase morto no hospital? Questiona Steve.
Oras, você não me conhece mesmo não é Steve?! Fred sorri com leve tom irônico para ambos. Olhou Tânia ainda imóvel. Olá Tânia! Feliz em me ver?
        Steve percebe um estranho suspense pairar naquele lugar.
        Steve, eu tive que segui-lo, pois não tinha ideia de onde ela poderia estar. Fred responde Steve, mas ainda fitando Tânia. Sim, estou muito ferido, mas não poderia deixar de encontrar Tânia.
        Mas o que esta acontecendo aqui? Steve estava completamente confuso.
Perdão Steve, mas devo ser o portador de más noticias. Tânia, sua querida namorada queria eliminá-lo para sobrar mais dinheiro na venda da pedra.
Como é que é?! Tânia parece indignada. Como você pode contar tamanha mentira! Era você quem queria eliminá-lo e armou aquela cilada para ele na estação de trem. Você queria empurrá-lo nos trilhos! Tânia começa a gritar apontando o dedo ferozmente em direção ao Fred.
        O quê?! Steve parece assustado com tantas revelações em tão pouco tempo.
É isso mesmo! Você sabe que é tudo verdade. Você não passa de um ladrão descarado que precisava de cobaias para assaltar por você! Tânia começa a gritar descaradamente. Ele – Tânia fala a Steve ainda apontando para Fred – é um vigarista. Ele nos usou para conseguir o que queria. Só que tudo se perdeu quando ele tentou me induzir a matá-lo e fugir com ele e a pedra para outro país. Eu tentei impedi-lo e aconteceu o que já sabemos. Ele tinha um plano para te fazer ir até a estação e me ver atirando nesse safado. Queria que eu atirasse em seu ombro e dessa forma ele faria você pensar que eu quisesse eliminar vocês dois para fugir com a pedra sozinha. Mas eu reagi.
No último momento neguei seu plano e então nós começamos a brigar até que a pistola disparou atingindo-o na barriga. Não foi minha intenção atirar em ninguém. Eu fugi no mesmo instante, pois sabia que você viria e eu lhe conheço, sei que você estava atordoado demais. Se visse aquela cena, mesmo que me amasse, ficaria na dúvida sobre a verdade ou não. Só que Fred sabia que cedo ou tarde iríamos nos encontrar, e tinha medo de seus planos irem por água abaixo. Somente eu e ele sabíamos onde estava enterrada a pedra. Tenho certeza de que ele te seguiu só para me encontrar e nos eliminar. Dessa forma ele reaveria a pedra e fugiria daqui milionário.
Steve estava atordoado com aquela chuva de revelações caindo como canivetes afiados sobre seu corpo.
Desculpe-me Steve, sei que nem deveria ter aceitado nada desse sujeito e acabei traindo sua confiança. Talvez não mereça seu perdão, mas você sabe que tudo que fiz foi por amor. Pelo seu amor!
        Steve sentiu como se uma bomba explodisse em sua face. Tânia parecia ter razão. Suas palavras possuíam uma certeza incrédula. Era uma certeza que não poderia ser questionada. Fred estampava uma face de ódio por aquelas palavras de Tânia, e quando ela terminara de falar, ele puxou uma pistola por debaixo do casaco e apontou para os dois. Tânia e Steve ficaram paralisados. Tânia enfim estava certa. Steve pensara. Ambos estavam agora na mira daquele lunático, e ele parecia decido a por um fim naquela situação.
        Bem, eu não queria isto, mas você pediu sua vagabunda! Você poderia ter vivido coisas comigo que jamais imaginaria viver com este pé rapado aí do seu lado. Eu teria lhe dado o mundo! Agora, que vocês apodreçam juntos!
        PARADO! NÃO SE MEXA! Gritam os agentes adentrando ao recinto e subindo as escadas a passos infinitamente largos. Eles também seguiram Steve, e estavam próximos quando ouviram a conversa ao meio e assumiram a postura quando avistaram Fred puxando sua arma e apontando em direção ao Steve. De onde eles estavam conseguiam avistar dois homens conversando.
        O quê? Fred se desconcentra e Steve se joga para cima dele na tentativa de desarmá-lo. Os dois começam uma luta avassaladora. Não parecia haver mais ninguém naquela sala, somente os dois se confrontando. O vencedor sairia com vida. Nada mais importava para ambos.
De repente a arma dispara. Seu projétil vai de encontro ao peito de Steve, que por sua vez, começa a sangrar muito, sentindo uma dor feroz, e perdendo suas forças. Assustado com a imagem do amigo companheiro de assalto, Fred fica imóvel, duro. Sem qualquer movimento. Parecia ser feito de concreto puro.
Finalmente os agentes chegam à sala e conseguem rendê-lo.
        Tudo bem com você? Um dos agentes pergunta a Steve.
        Sim. Estou. Steve olha ao seu redor. Vê um dos agentes imobilizar Fred que parecia não se opor.
Aqueles agentes pareciam familiares. Eram James e Mike. Continuou a passear com os olhos pelo local.
Onde está Tânia? Ele se pergunta.
Fred parecia não se importar mais se Tânia havia ou não desaparecido daquele local.
        Parece que ele o atingiu no ombro, mas muito próximo ao coração. Venha, vamos chamar uma ambulância para o senhor, mas já vou adiantando que vocês têm muito o quê explicar sobre essa tal pedra que roubaram.
Steve olha para um dos agentes com um ar meio surpreso.
Eles ouviram toda nossa conversa? Steve pensa.
            Parece que os pegamos no ato, não é!? Responde Mike.

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