Na sala de espera do hospital, ficava cada vez mais impaciente. Depois de uma longa
espera, uma enfermeira foi ao seu encontro. Ele passa bem. Por sorte o tiro
não perfurou nenhum órgão a ponto de uma consequência mais grave. Ele já está
no quarto. Suspirou de alívio ao ouvir estas palavras. Posso vê-lo
agora? Perguntou com um tom de súplica. O Senhor é algum parente? Não.
Só amigo. Era óbvio que ela não poderia atender este pedido, mas por alguma
razão agira com compaixão naquela noite. Está bem, vou deixá-lo como
acompanhante, mas se alguém o pegar não quero que sobre pra mim, está bem?! Se
me perguntarem, eu nego! Agradeceu a ‘doce’ enfermeira e a acompanhou até o
quarto onde seu amigo repousava.
Seu amigo dormia na cama, desmaiado.
Avistou um sofá no canto do quarto. Acomodou-se lá e passou o que lhe restava
da noite ainda mais aflito. Perdido em pensamentos. Quem será que atirou?
Por que o fez? O que queria dele? Estava atrás de mim?
O sol já tocava o quarto quando se deu
conta de que ainda não havia dormido. Enfermeiros adentravam no quarto a todo o
momento para checar as condições de seu amigo. A todos, ele relatava a mesma
coisa. Sou um amigo muito próximo. O mais próximo de família que Fred já
tivera. E era verdade. Cortara sua relação com a família e amigos quando
decidiu morar sozinho no estado vizinho.
Já era quase meio-dia quando Fred abriu
os olhos. Steve? O que faz aqui? O que eu faço aqui? Na mesma hora,
levantou-se do sofá e foi para mais próximo da cama de seu amigo. Você levou
um tiro Fred. Preciso saber o que houve ontem naquela estação de trem enquanto
me esperava. Com quem você estava?
Fred,
sentindo-se tonto pela perda de muito sangue, forçava para se lembrar da noite
passada. Foi ela! Ela estava comigo Steve. Foi a Tânia! Ela estava decidida
a continuar com o plano, mas quando disse que você havia desistido, ela se
enfureceu.
Ele
não pôde acreditar no que acabara de ouvir. Mas por quê? Ele perguntou. Foi
ela quem não queria mais continuar. Foi isso que me forçou a desistir também!
Porque agora ela decide voltar atrás? Isso não faz nenhum sentido Fred! E como
assim ela queria me matar? Minha própria namorada desejava meu fim? Isso não
condiz com atitudes dela. Responde Steve atordoado. Eu sei. Fred completa.
Ela havia dito que pensara melhor no caso e vira que não havia mais como
voltar. Mas ficou uma pilha de nervos por sua causa. Ela começou a ficar
completamente fora de si. Nem eu mais a reconheci. Parecia ser outra pessoa. Também
fiquei chocado quando ela disse que iria te matar. Foi quando ela puxou a
pistola e disse que iria acabar com sua vida assim que apontasse naquela
estação. Minha ação foi instantânea. Tentei roubar-lhe a arma, mas no meio da
discussão, a pistola acabou disparando e me atingindo na barriga. Graças a Deus
não foi fatal.
Precisamos encontrá-la. Pensou Steve olhando pela janela.
Você terá que procurá-la. Disse Fred.
Eu, neste estado, não vou poder ajudar muito. E nós começamos isso tudo, não
há como parar. Muito em breve as noticias começarão a circular. Logo virão as
investigações. O que trará nossos queridos inimigos até mim. E eu, nesta
condição lamentável, nada poderei fazer. Há menos que você vá atrás de Tânia e
faça o que tem que fazer!
Eu não quero! Eu disse que não quero
mais continuar! Exclama Steve
exaltando-se, o que faz todos os enfermeiros ficar atônitos com as palavras em
alto tom que ecoavam pelo corredor hospitalar.
Você não tem escolha! Mesmo que não
queira mais continuar, você precisa encontrá-la para reverter esta situação. Steve
estava vermelho de raiva. Seu rosto fervia de ódio, mas sabia que Fred tinha
razão. Era preciso encontrar Tânia para que tudo aquilo fosse solucionado.
Neste instante, dois policiais adentram
no quarto. Bom dia. Meu nome é Agente Mike e este é o Agente James.
Gostaríamos de fazer algumas perguntas sobre o incidente de ontem. Há algo
errado policial? – Pergunta Steve. Não. Responde puxando do bolso do
seu casaco um caderno pequeno de anotações e uma caneta. Isto é apenas um
procedimento padrão. Steve e Fred entreolharam-se.
Mike caminha até ao lado da cama
enquanto James fica de guarda na porta para que ninguém mais adentrasse aquele
quarto, e que muito menos saísse dele. O senhor conhece o homem quem
disparou contra o senhor? – Pergunta Mike. Homem? Indaga Fred
expressando uma face de incompreensão. Sim. Afirma o Agente Mike. O homem que estava com o senhor. Coletamos
informações de que este indivíduo havia chego ao local em sua companhia, logo
acreditamos que o senhor saiba quem é.
Fred
olha sorrateiramente para Steve que retribui o olhar dando um sutil sinal
dizendo que não com a cabeça. Ambos notaram que os agentes não perceberam que aquele
“homem” tratava-se de uma mulher. Não. Não o conheço. Responde Fred. Então
por que ele chegou à estação em sua companhia? Questionou Mike franzindo o
cenho. Provavelmente desconfiando daquela negativa que recebera. Er... Bem,
é que, na verdade, eu esbarrei neste sujeito ao levantar. Eu havia bebido um
pouco e estava meio tonto, por isso sentei-me enquanto esperava o trem. Mas
quando fui levantar, minha vista ficou um pouco escura e turva e comecei a
ficar meio tonto cambaleando e, sem querer, acabei esbarrando nesse sujeito. Fred
estava começando a ficar ofegante. Seus olhos estavam num balanço frenético de
um lado a outro. O senhor tem ideia do porque ele sacou sua arma e atirou
contra você? Perguntou Mike notando cada vez mais as reações questionáveis daquele
sujeito. Claro que não! Exclama Fred. Ele estava louco! Ficou furioso
só porque esbarrei nele. Pedi desculpas, mas ele nem quis me ouvir. Enfiou a
mão por dentro de seu casaco e sacou sua pistola, apontou contra mim e, sem ao
menos dar-me ouvidos, disparou. Por sorte ainda estou vivo!
Mike
olhou para James, que franzina a testa duvidando claramente das palavras
daquele homem. Voltou-se para Steve. E o Senhor? O que estava fazendo lá?
Eu? Pergunta Steve com a voz meio trêmula. Bem, eu estava apenas de
passagem... A caminho do trem. Quando dei por mim, estava ao lado dele tentando
socorrê-lo. Diz Steve apontando
para o amigo.
E vocês se conhecem? Questiona Mike.
Não. Só estou aqui porque tenho um
péssimo costume de me preocupar com tudo. E naquela situação só o que pensei
foi na saúde deste homem.
Mas a enfermeira disse que o Senhor
conhecia este homem. E até lhe pediu para deixá-lo ficar no quarto, pois era o
mais próximo de família que este homem já tivera.
Fred
ficou paralisado. Uma gota de suor descia pelo seu rosto. Steve engoliu
a seco aquele questionamento do Agente. Er... Pois é... Eu menti para ela.
Mentiu para ela? Mike estava muito desconfiado daquela resposta. Porque
haveria de mentir para uma simples enfermeira dizendo que conhecia este homem – aponta para Fred – e até fazia parte de
sua família só para ficar ao seu lado num quarto de hospital sem ao menos
conhecer, de fato, este sujeito? Steve estava se sentindo numa saia justa.
Aquele agente possuía uma variável incrível de persuasão. Não sabia mais o que
poderia usar como argumento justificável.
Sim... Responde rezando para que aquele agente parasse de fazer-lhe perguntas
complicadas. Como falei, tenho o péssimo costume de me preocupar com tudo e
com todos. Eu estava desesperado. Queria saber se ele ficaria bem, então
resolvi mentir. Achei que ela fosse se comover com a história e me deixaria
ficar.
Um
silêncio ecoou após este depoimento. Steve estava em pé, parado ao lado da
janela. Imóvel com as perguntas do Agente Mike. Fred parecia ainda mais tenso.
Os olhos estavam petrificados.
Uma ultima pergunta senhores... Na
madrugada de ontem houve um incidente no museu de história. Foi roubada uma joia
raríssima, de valor inestimável que estava de passagem a caminho da metrópole.
A parada havia sido programada pela rota de transporte. Por acaso os senhores
não estão sabendo de nada sobre este caso, estão?
Nã... Não... Eu não estou não. Responde Steve.
Er... Nem sequer sabia dessa tal
pedra ai. Ressalta Fred.
Ok senhores. Obrigado por cooperarem.
Fala enquanto guarda seu caderno
de volta no bolso do casaco. Espero que tenha uma melhora bem rápida Senhor
Fred. Até mais. Os agentes caminham em direção à saída fechando a
porta enquanto a atravessam. Steve se apressa para tentar ver se eles haviam
ido. Curva seu corpo e puxa calmamente a porta a fim de não chamar a atenção.
Visualiza os dois caminhando pelo corredor em direção ao elevador que se
encontrava parado no andar com as portas abertas parecendo aguardá-los. Ambos
andavam calados, sem esboçar qualquer tipo de reação. Adentram. Antes que
alguém apertasse o botão, James olha para Mike. É... Eu também percebi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário