Durante os dias que antecederam a chegada da pedra, os três elaboraram vários planos
que poderiam levá-los à vitória, mas todos pareciam conter falhas descomunais.
Encontravam-se sempre ao entardecer no parque onde costumavam frequentar para
tomar gim e ficavam por horas a fio. Muitas vezes saiam de lá já ao amanhecer. Decidiram
não se encontrar no Veteran’s, pois
se tratava de um local com muitas pessoas reunidas, e que definitivamente não
seria o melhor local para se traçar um plano desse nível. No último dia de
planejamento, passaram todos juntos. Não dormiram, mal sequer comeram. Estavam
ficando sem ideias e o tempo parecia passar cada vez mais rápido. Parecia que
não iria funcionar todo aquele esforço.
Após tantos planos infalíveis falíveis e algumas
noites sem dormir, finalmente conseguiram chegar a um acordo e esquematizaram
aquele que seria utilizado para tal fim.
Fred frequentou o museu todos os dias que se seguiram.
Sempre utilizava a mesma desculpa de que esquecera de entregar uma
correspondência e/ou aproveitava o tempo entre uma entrega e outra para fazer uma visita ao museu e aproveitava para analisar as instalações. Vistoriava cada
bloco daquele prédio olhando minuciosamente cada salão. Observava a
movimentação de pessoas que visitavam o museu e também de alguns homens que
estavam instalando as câmeras de vigilância. Provavelmente aquelas que seriam
utilizadas para a proteção da pedra.
Alguns homens também mexiam naquelas que já havia
antes. De certo estavam realizando a manutenção destas para também serem
utilizadas. Observou o movimento dos guardas, e seus respectivos horários da
troca do plantão. Tudo fora muito bem analisado.
Percebeu que disponibilizaram uma sala pequena só para
a aparelhagem de vídeo. Tudo estava em seu devido lugar. Enquanto isso, Steve
pesquisava informações sobre sistemas de vigilância por via satélite. Tânia
ficou incumbida de adquirir os materiais necessários para o roubo. Procurava
manter as aparências para que ninguém percebesse.
O sistema de vigilância começou
a funcionar um dia antes da data prevista para chegada da joia. Steve
aproveitou este tempo para tentar conhecer o sistema utilizado naquele museu. Sabia
que teria apenas uma única chance de invadi-lo, e torcer para não ter
seu endereço IP detectado e rastreado. Isso levaria os policiais diretamente ao
núcleo da empresa de seu tio, o que o deixaria em maus lençóis. Poria em risco
seu tio, aquele que tanto o ajudou a crescer profissionalmente e que agora ele
estava o esfaqueando por trás. Fora o tamanho desgosto que iria lhe causar. Se
não morresse pelo câncer, certamente seria por vergonha.
Finalmente
veio o dia da chegada da tal valiosa pedra na pequena cidade interiorana. Seu
transporte estava sendo mais escoltado que qualquer outra coisa. Ninguém
daquela cidade entendeu o que estava acontecendo quando viram passar por
aquelas ruas estreitas, tamanho comboio de carros e motos. Havia em torno de
quatro carros, fora o que transportava a pedra e mais quatro motos. Era quase
um desfile em passeata.
Quando souberam que já havia chego quem esperavam na
cidade, eles logo se encontraram na praça em frente ao museu. Puseram-se em um
local bem próximo de onde era possível ver nitidamente os carros pararem de
frente com o portão principal do prédio. Os carros pararam quase que simultaneamente.
Vários guardas desceram e se dispuseram um ao lado do outro formando um
corredor humano que levava numa única direção. Da entrada principal, até a sala com uma placa de entrada restrita. A sala de registros e catalogação do museu.
De repente, um dos guardas desembarcou empunhando uma
pequena caixa. Seu tamanho era quase duas vezes maior que um punho cerrado,
mas, por mais absurdo que fosse, a caixa era transparente. Foi possível
visualizar um lindo brilho roxo causado pelo sol que a acariciava que emanava daquela caixa. Era um brilho intenso,
vivo.
Um dia. Disse Fred. Teremos
somente essa madrugada para agir. Temos que deixar tudo pronto. Não podemos
falhar.
Muitas pessoas curiosas seguiram aquele comboio a fim
de descobrir do que se tratava. Afinal,
nunca viram tanta movimentação assim antes.
Quando souberam que os carros pararam em frente ao
museu, uma multidão se aglomerou em volta. Os seguranças do museu e os guardas
da escolta tiveram certa dificuldade em mantê-los afastados, mas nenhum tumulto
aconteceu. Eram apenas curiosos.
Alguns perguntavam aos guardas do cordão o que estava
acontecendo, mas poucos respondiam. Era procedimento de segurança que não
soubesse de nada, mas inútil a julgar pelo fato do tamanho espanto que causavam
quando chegavam aos lugares.
Fred ficou um pouco tenso ao saber do curto tempo que
teriam para agirem, mas de certo isso já era esperado.
Voltaram para o prédio de Adam e subiram até a
cobertura. Eles passaram o dia inteiro lá. Como ele era um dos poucos prédios
relativamente alto, sua vista era consideravelmente ampla se comparada às
outras, e tinha, com ajuda de um binóculo, uma visão razoável do museu. Um dos
benefícios também, é que havia uma pequena parte coberta que servia como um
pequeno jardim que Dona Justina cuidava das suas plantinhas. Eram suas companheiras
de todas as horas, ela dizia. Ficaram ali em meio às plantas. Isso lhes
forneceu pequena camuflagem e um abrigo do sol. Ficaram analisando a movimentação
de guardas e seus turnos. Eles perceberam que havia uma demora na troca dos
postos, a cada quatro horas corridas, que levavam em media quinze minutos. A vigilância direta na joia ficava
parcialmente aberta. Era só uma questão de cronometrar e tudo daria certo.
O sol escaldante queimava o chão daquela cobertura. Fred
parecia focado e determinado olhando através dos binóculos. Tânia estava
impaciente. Não via a hora de agir. Já Steve, era o que mais brigava com suas
raízes. Seu tio não saia de seus pensamentos, mas sabia que na hora certa, ele
não poderia se deixar levar. Teria que manter sua mente focada, se não tudo
estaria perdido. Tânia decidiu sair em busca de alimentos suficientes para
aguentarem o dia inteiro ali.
A noite chegou. Tudo já estava preparado e separado.
Faltava somente o comando para iniciarem. Fred voltou-se para Steve e Tânia. Está na hora. Tânia, você vem comigo. Steve,
faça o que você faz de melhor.
Os três desceram da cobertura e voltaram para o escritório.
Ok. Hora de
agir. Temos que ser rápidos e sincronizados. Qualquer coisa, vocês sabem onde
se encontrar. Diz Fred ao casal
pegando algumas coisas que poderiam lhe ser útil e voltando-se para Tânia. Vamos. Steve ficou. Foi até sua mesa
que ficava próximo a janela, puxou sua cadeira e ligou o computador. Fred e
Tânia desceram as escadas passando pela porta e se dirigindo à praça onde
estavam mais cedo.
Steve começou seu digitar frenético naquele teclado de
computador. Sua mente ainda não estava limpa para poder realizar seu maior
feito. Seu tio ainda vagava em seus pensamentos. O que ele iria pensar de mim? Será que entenderia que estou fazendo
isso por ele? Só por ele? Próximo
dali estavam Fred e Tânia a caminho do museu que ficava a poucos quarteirões.
Quando
era próximo dos ponteiros do velho relógio no pulso de Steve apontar duas e
meia da manhã, ele já estava em sua tentativa de acessar o sistema de câmeras. Como
a janela da sala onde Steve estava era possível avistar a entrada do museu e
suas adjacências, Fred e Tânia aguardariam um sinal visual de Steve, o qual
este seria feito por uma lanterna.
Quando estavam em frente ao museu, Fred
e Tânia aguardavam o tal sinal indicando que conseguiu invadir o sistema.
Só espero que
ele consiga. Fred questiona.
Claro que ele
consegue! Retruca. Steve nunca me decepcionou. Nem como
namorado, nem como ‘burlador’ de sistemas.
É, mas você
já é de se decepcionar, não é?! Completa.
Tânia franze o cenho de raiva daquelas palavras de
Fred, mas sabia que ele estava certo. Aquela certeza foi o que mais a irritou.
Um frio congelante daquela noite parecia distrair
ainda mais os guardas. Isso foi muito bem
vindo. Pensava Fred.
Steve estava suando frio. O bater frenético de seus
dedos no teclado. Os olhos vidrados naquele monitor. Era possível ouvir seu
coração pulsar alucinadamente.
Droga. Estou
demorando demais! Ah, tio. Se o senhor não estivesse nessas condições...
Sua mente estava inquieta. Olhava a toda instante a
hora correr pelos ponteiros de seu relógio de pulso. Estava quase desistindo.
Esse sistema
é complexo demais para mim. Não consigo quebrar essas chaves decodificadas. Que
tipo de sistema é esse, meu Deus?!
Quando era quase três horas da madrugada, Steve
finalmente conseguiu invadir.
Ah! Exclama Fred olhando o sinal pela janela. Finalmente. Achei que ele não seria capaz.
Claro que ele
é capaz. Eu te falei! Diz Tânia.
Está bem.
Vamos agir. Fred diz levantando-se do
banco onde estavam sentados e caminhando contornando o museu e parando em um
ponto onde se via um dos guardas na entrada principal.
Ufa! Pensa Tânia. Também
achei que não fosse conseguir.
Os guardas começaram a se movimentar. O turno estava
sendo trocado. Agora era a hora de executar o plano.
Bem na hora! Completa Fred.
Bem na hora! Completa Fred.
Seguiram um dos guardas até a entrada de serviço
lateral. Ele parou em frente à porta, puxou o molho de chaves e começou a
passar os dedos por elas. Uma a uma. Estava procurando a que o faria adentrar e
fugir um pouco daquele frio. Fred e Tânia nem sentiam este frio de tanta adrenalina
no sangue naquela hora. Posicionaram-se bem atrás do guarda, no meio de uma
moita alta. O guarda nem notou sua presença. Estava mais preocupado em avistar
a chave e sair do ar gélido da noite.
Quando ele finalmente acertou a chave, Fred sai de seu
esconderijo e rende com um mata leão aquele guarda distraído.
Eles adentram o museu. Tânia encontra uma pequena sala
de materiais de limpeza, e lá, ela encontrou uma fita prateada. Grossa e
resistente. Era tudo o que precisava. Prendeu as pernas e os braços do guarda
contra suas costas e o tapou a boca. Ele mal podia se mexer ou falar. Roubou-lhe
o molho de chaves e o jogou para dentro daquela sala apertada como se fosse um
saco de lixo grande e pesado, e o trancou.
Em seguida, os dois foram até a sala de arquivos, que
era a sala onde a joia se encontrava trancada a sete chaves.
Chegando lá, Fred puxou aquele molho de chaves do
guarda e tentou uma a uma enquanto Tânia ficava de guarda.
Que bom que
acho que não vou precisar usar as ferramentas que trouxe para abrir essa porta.
Pensou Fred.
Steve observava tudo atentamente pelo computador.
Tinha acesso às câmeras de vigilância.
Anda logo com
isso Fred! Dizia Tânia já impaciente
olhando para o relógio. Daqui a pouco
chega alguém.
Calma! Sussurrava. Estou
quase conseguindo.
Por fim, a porta recebeu a chave correta. Isso! Consegui!
Nenhum comentário:
Postar um comentário