Capítulo IX

Precisamos encontrar Fred. Ele é a chave para esse problema. Exclama Tânia de dentro daquele minúsculo elevador. Temos que ir atrás dele para conversar. Quero ouvir o que ele tinha a nos dizer sobre a tal pedra. Se essa for nossa única saída, teremos que recorrer a ela.
Steve permanecia imóvel. Parecia nem se importar com o que acontecia a sua volta, tampouco se importava com o que Tânia falava.
Steve, estou falando com você! Será que dá pra prestar atenção em mim um minuto só?! Tânia odiava ser ignorada.
O que você disse? Pergunta Steve voltando do seu estado estático.
Você não ouviu uma palavra que eu disse, não é?! Pergunta ironicamente. Steve da com os ombros. Isso deixa Tânia ainda mais irritada, mas respirou fundo e tentou se acalmar. Sabia que Steve não a ignorava por vontade própria. Ele estava em um momento difícil. Era compreensível aquela sua reação.
O elevador chega ao térreo. As portas se abrem. Eles caminham em direção à saída. Descem as escadas e caminham até o carro e adentram-no. Tânia se volta para Steve.
Eu disse que deveríamos procurar o Fred. Ele talvez tenha alguma solução para o nosso problema.
Sim, ele tem. Tem o desejo de nos ver como bandidos! Ressalta Steve.
Para com isso Steve. Não é bem isso... Ah não?! E o que é então? Responda-me! Eu quero saber! Steve interrompe falando alto.
Está bem! Você talvez esteja certo. Assente.
Talvez, Tânia? Indaga mais uma vez com tom irônico. É claro que estou certo! Diz encarando-a friamente. Suas mãos seguravam o volante do carro com uma raiva descomunal. O que me decepciona ainda mais é em como pude ser tão idiota de confiar em uma pessoa dessas. Uma pessoa tão... mau caráter!
Calma, amor. Tânia tenta acalmar Steve. Vamos ouvir o que ele tem a dizer. Isso não fará de nós criminosos apenas por ouvir uma ideia. Pense bem, como Fred disse antes, nós nunca conseguimos nada que podemos dizer que é nosso. Você ainda mora naquele pardieiro nojento e vive à custa do seu tio. E ainda mais agora com esse câncer... De onde vamos arrumar tanto dinheiro assim para pagar essa operação? Nem que você venda a empresa, não teríamos dinheiro o suficiente para cobrir essa despesa. Eu sei que isso foge totalmente do seu estilo de vida e também isso vai de encontro a tudo que você acreditou... Isso também vai de encontro ao meu! Mas pense bem... É uma saída, senão a única.
Steve assentira com a cabeça. Sabia que, no pior de todas as hipóteses, Tânia tinha alguma razão no que falava.
E, poxa, eu também não tenho nada nessa vida que possa me vangloriar. Claro que tenho você e seu tio que considero minha família, mas... Você entende o que eu digo não? Steve se volta para Tânia olhando fixamente em seus olhos. Como Fred disse, você tem este dom maravilhoso. Porque não podemos aproveitá-lo só um pouquinho? Mesmo que seja para uma pratica não tão respeitosa, ela tem um fundo de funcionalidade, afinal, será por uma ótima razão... Você irá salvar a vida do seu tio!
Mas Tânia, estamos falando de um roubo! Uma coisa completamente errada! Steve indaga com peso na consciência.
Então você acha que devemos deixar seu tio morrer? Questiona Tânia. Mesmo sabendo que temos uma saída, você ainda prefere deixar seu tio partir?
Mas é errado. Os fins não justificam os meios. Completa Steve. Meu tio morreria de desgosto se soubesse que fui capaz de ir tão baixo dessa forma. Steve diz voltando a ficar imóvel por algum tempo.
E então, o que acha que devemos fazer? Questiona Tânia.
Bom. Steve fala quase sussurrando. Eu não gosto nada desta história, mas... Acho que devemos ir atrás de Fred e ouvir o que ele tem a dizer.
Tânia avistou um telefone público. Saltou do carro e foi telefonar para os correios à procura de Fred. Steve deu a partida no motor e aguardou-a retornar. Em poucos minutos, ela devolveu o fone ao gancho e caminhou até o carro. Adentrou.
Ele vai nos aguardar no depósito abandonado. Vamos para lá agora!
O que você disse a ele? Pergunta Steve curioso.
Nada de mais. Apenas que agora estávamos prontos para ouvir o que ele tinha a dizer. Mas chega de papo. Ande, vamos para lá que ele já disse estar a caminho também.
Prontamente Steve parte dali em direção ao local escolhido. Durante o caminho, Steve percebe que a feição de Tânia estava estranha. Possuía um brilho indecifrável. Parecia estar ansiosa para tudo aquilo que tinha por vir. Por um instante, não reconheceu a garota por quem se apaixonara perdidamente. Estava ali, ao seu lado, uma incógnita, sombria e muito mais misteriosa.
Ao chegarem ao local combinado, notaram um velho carro estacionado ao lado de um galpão. Era de Fred.
Steve adentra o portão e contorna o estacionamento parando ao lado do carro estacionado. Fred aguardava sentado em uma velha cadeira ao lado da porta do depósito.
Que bom que vocês mudaram de ideia! Diz Fred enquanto Tânia salta do carro, e Steve faz o mesmo após desligar o motor do carro e retirar a chave da ignição.
O que você tem em mente? Pergunta Tânia sem a menor perda de tempo.
           Vamos com calma Tânia. Indaga Fred. Estive verificando e descobri que a joia chegará dentro de três dias. É pouco tempo que teremos para planejar algo, mas até lá poderemos analisar o local do museu onde a joia ficara armazenada e estudar o prédio e a sua movimentação. Enquanto Fred falava, os olhos de Tânia clamavam por um brilho de aventura. Aquela cena não agradava em nada a Steve. Tudo tem que ser sincronizado e, com nosso amiguinho aqui – Fred diz apontando para Steve que esboça uma face de ódio – teremos certeza de que as câmeras e o sistema de alarmes não serão problema. Steve fuzila Fred com os olhos. Mas para isso, precisamos ver até onde vai seu “talento”, não é garoto?
Steve odiava aquele tom de voz pejorativo usado por Fred. Ele era apenas dois anos mais novo que Fred. Como faremos então? Questiona Tânia. Calma minha querida, tudo em sua hora, mas antes preciso saber se realmente estão dispostos a ir até o fim comigo nessa história. Fred encara principalmente a Steve. E ai, estamos todos juntos nessa? Diz estendendo o braço para ambos.
Seja objetivo e reto! Exalta Tânia estendendo seu braço a Fred.
Fred sorri com a confirmação da garota. Volta-se para Steve. E você parceiro? Posso contar contigo também?
Steve se conteve por uns instantes. Sim... Pode contar comigo para o que for.
Um sorriso intimidador é visto na face de Fred neste exato momento.
Ótimo! Fico muito feliz com isso.
E então, o que faremos? Pergunta Tânia impaciente.
Calma. Aqui não será possível continuar essa conversa. Encontrem-me amanhã em frente à empresa do tio do Steve. Lá explico melhor a minha ideia.
Mas amanha é domingo e a empresa do meu tio não abre, e nem abriria se quisesse também...
Não entendi porque essa frase, Steve? Pergunta Fred em ar de curioso. Ele não sabia do estado de Adam. E Steve com certeza não queria contar-lhe mais nada. Não confiava mais naquele sujeito após conhecer sua verdadeira índole.
Não, nada. É que meu tio fica com a chave...
Mas você não tem aquela chave extra mais? Tânia o dedura.
Eles usavam aquele pequeno escritório por muitas vezes como o ponto de encontro romântico dos dois.
Muito bem então. Estamos decididos. Amanhã de manhã me esperem lá. Até mais senhores.
Fred entra em seu carro, dando a partida e saindo dali deixando então o casal. Steve e Tânia ficam, ainda por um tempo, imóveis. Encostados na parede pensativos. Steve com os olhos perdidos pensando no tipo de enrascada que estava preste a entrar. Tânia estava ansiosa apenas. Adorava o espírito de aventura e perigo. Estava degustando aquele sabor ora amargo de medo, ora doce e saboroso de ansiedade.
Ficaram assim por um tempo. Depois decidiram partir também.
Entraram no carro e Steve dirigiu rumo à casa de Tânia. No caminho, vendo o estado que Steve estava, ela sentiu um aperto em seu peito.
Será que podemos realmente confiar em Fred, ou seria melhor desistir enquanto é tempo?

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