Capítulo II

     Na sala de espera do hospital, ficava cada vez mais impaciente. Depois de uma longa espera, uma enfermeira foi ao seu encontro. Ele passa bem. Por sorte o tiro não perfurou nenhum órgão a ponto de uma consequência mais grave. Ele já está no quarto. Suspirou de alívio ao ouvir estas palavras. Posso vê-lo agora? Perguntou com um tom de súplica. O Senhor é algum parente? Não. Só amigo. Era óbvio que ela não poderia atender este pedido, mas por alguma razão agira com compaixão naquela noite. Está bem, vou deixá-lo como acompanhante, mas se alguém o pegar não quero que sobre pra mim, está bem?! Se me perguntarem, eu nego! Agradeceu a ‘doce’ enfermeira e a acompanhou até o quarto onde seu amigo repousava.
        Seu amigo dormia na cama, desmaiado. Avistou um sofá no canto do quarto. Acomodou-se lá e passou o que lhe restava da noite ainda mais aflito. Perdido em pensamentos. Quem será que atirou? Por que o fez? O que queria dele? Estava atrás de mim?
        O sol já tocava o quarto quando se deu conta de que ainda não havia dormido. Enfermeiros adentravam no quarto a todo o momento para checar as condições de seu amigo. A todos, ele relatava a mesma coisa. Sou um amigo muito próximo. O mais próximo de família que Fred já tivera. E era verdade. Cortara sua relação com a família e amigos quando decidiu morar sozinho no estado vizinho.
        Já era quase meio-dia quando Fred abriu os olhos. Steve? O que faz aqui? O que eu faço aqui? Na mesma hora, levantou-se do sofá e foi para mais próximo da cama de seu amigo. Você levou um tiro Fred. Preciso saber o que houve ontem naquela estação de trem enquanto me esperava. Com quem você estava?
        Fred, sentindo-se tonto pela perda de muito sangue, forçava para se lembrar da noite passada. Foi ela! Ela estava comigo Steve. Foi a Tânia! Ela estava decidida a continuar com o plano, mas quando disse que você havia desistido, ela se enfureceu.
        Ele não pôde acreditar no que acabara de ouvir. Mas por quê? Ele perguntou. Foi ela quem não queria mais continuar. Foi isso que me forçou a desistir também! Porque agora ela decide voltar atrás? Isso não faz nenhum sentido Fred! E como assim ela queria me matar? Minha própria namorada desejava meu fim? Isso não condiz com atitudes dela. Responde Steve atordoado. Eu sei. Fred completa. Ela havia dito que pensara melhor no caso e vira que não havia mais como voltar. Mas ficou uma pilha de nervos por sua causa. Ela começou a ficar completamente fora de si. Nem eu mais a reconheci. Parecia ser outra pessoa. Também fiquei chocado quando ela disse que iria te matar. Foi quando ela puxou a pistola e disse que iria acabar com sua vida assim que apontasse naquela estação. Minha ação foi instantânea. Tentei roubar-lhe a arma, mas no meio da discussão, a pistola acabou disparando e me atingindo na barriga. Graças a Deus não foi fatal.
        Precisamos encontrá-la. Pensou Steve olhando pela janela.
        Você terá que procurá-la. Disse Fred. Eu, neste estado, não vou poder ajudar muito. E nós começamos isso tudo, não há como parar. Muito em breve as noticias começarão a circular. Logo virão as investigações. O que trará nossos queridos inimigos até mim. E eu, nesta condição lamentável, nada poderei fazer. Há menos que você vá atrás de Tânia e faça o que tem que fazer!
        Eu não quero! Eu disse que não quero mais continuar! Exclama Steve exaltando-se, o que faz todos os enfermeiros ficar atônitos com as palavras em alto tom que ecoavam pelo corredor hospitalar.
        Você não tem escolha! Mesmo que não queira mais continuar, você precisa encontrá-la para reverter esta situação. Steve estava vermelho de raiva. Seu rosto fervia de ódio, mas sabia que Fred tinha razão. Era preciso encontrar Tânia para que tudo aquilo fosse solucionado.
        Neste instante, dois policiais adentram no quarto. Bom dia. Meu nome é Agente Mike e este é o Agente James. Gostaríamos de fazer algumas perguntas sobre o incidente de ontem. Há algo errado policial? – Pergunta Steve. Não. Responde puxando do bolso do seu casaco um caderno pequeno de anotações e uma caneta. Isto é apenas um procedimento padrão. Steve e Fred entreolharam-se.
        Mike caminha até ao lado da cama enquanto James fica de guarda na porta para que ninguém mais adentrasse aquele quarto, e que muito menos saísse dele. O senhor conhece o homem quem disparou contra o senhor? ­­– Pergunta Mike. Homem? ­Indaga Fred expressando uma face de incompreensão. Sim. Afirma o Agente Mike. O homem que estava com o senhor. Coletamos informações de que este indivíduo havia chego ao local em sua companhia, logo acreditamos que o senhor saiba quem é.
        Fred olha sorrateiramente para Steve que retribui o olhar dando um sutil sinal dizendo que não com a cabeça. Ambos notaram que os agentes não perceberam que aquele “homem” tratava-se de uma mulher. Não. Não o conheço. Responde Fred. Então por que ele chegou à estação em sua companhia? Questionou Mike franzindo o cenho. Provavelmente desconfiando daquela negativa que recebera. Er... Bem, é que, na verdade, eu esbarrei neste sujeito ao levantar. Eu havia bebido um pouco e estava meio tonto, por isso sentei-me enquanto esperava o trem. Mas quando fui levantar, minha vista ficou um pouco escura e turva e comecei a ficar meio tonto cambaleando e, sem querer, acabei esbarrando nesse sujeito. Fred estava começando a ficar ofegante. Seus olhos estavam num balanço frenético de um lado a outro. O senhor tem ideia do porque ele sacou sua arma e atirou contra você? Perguntou Mike notando cada vez mais as reações questionáveis daquele sujeito. Claro que não! Exclama Fred. Ele estava louco! Ficou furioso só porque esbarrei nele. Pedi desculpas, mas ele nem quis me ouvir. Enfiou a mão por dentro de seu casaco e sacou sua pistola, apontou contra mim e, sem ao menos dar-me ouvidos, disparou. Por sorte ainda estou vivo!
        Mike olhou para James, que franzina a testa duvidando claramente das palavras daquele homem. Voltou-se para Steve. E o Senhor? O que estava fazendo lá?
        Eu? Pergunta Steve com a voz meio trêmula. Bem, eu estava apenas de passagem... A caminho do trem. Quando dei por mim, estava ao lado dele tentando socorrê-lo. Diz Steve apontando para o amigo.
        E vocês se conhecem? Questiona Mike.
        Não. Só estou aqui porque tenho um péssimo costume de me preocupar com tudo. E naquela situação só o que pensei foi na saúde deste homem.
        Mas a enfermeira disse que o Senhor conhecia este homem. E até lhe pediu para deixá-lo ficar no quarto, pois era o mais próximo de família que este homem já tivera.
        Fred ficou paralisado. Uma gota de suor descia pelo seu rosto. Steve engoliu a seco aquele questionamento do Agente. Er... Pois é... Eu menti para ela.
        Mentiu para ela? Mike estava muito desconfiado daquela resposta. Porque haveria de mentir para uma simples enfermeira dizendo que conhecia este homem – aponta para Fred – e até fazia parte de sua família só para ficar ao seu lado num quarto de hospital sem ao menos conhecer, de fato, este sujeito? Steve estava se sentindo numa saia justa. Aquele agente possuía uma variável incrível de persuasão. Não sabia mais o que poderia usar como argumento justificável.
        Sim... Responde rezando para que aquele agente parasse de fazer-lhe perguntas complicadas. Como falei, tenho o péssimo costume de me preocupar com tudo e com todos. Eu estava desesperado. Queria saber se ele ficaria bem, então resolvi mentir. Achei que ela fosse se comover com a história e me deixaria ficar.
        Um silêncio ecoou após este depoimento. Steve estava em pé, parado ao lado da janela. Imóvel com as perguntas do Agente Mike. Fred parecia ainda mais tenso. Os olhos estavam petrificados.
        Uma ultima pergunta senhores... Na madrugada de ontem houve um incidente no museu de história. Foi roubada uma joia raríssima, de valor inestimável que estava de passagem a caminho da metrópole. A parada havia sido programada pela rota de transporte. Por acaso os senhores não estão sabendo de nada sobre este caso, estão?
        Nã... Não... Eu não estou não. Responde Steve.
        Er... Nem sequer sabia dessa tal pedra ai. Ressalta Fred.
        Ok senhores. Obrigado por cooperarem. Fala enquanto guarda seu caderno de volta no bolso do casaco. Espero que tenha uma melhora bem rápida Senhor Fred. Até mais. Os agentes caminham em direção à saída fechando a porta enquanto a atravessam. Steve se apressa para tentar ver se eles haviam ido. Curva seu corpo e puxa calmamente a porta a fim de não chamar a atenção. Visualiza os dois caminhando pelo corredor em direção ao elevador que se encontrava parado no andar com as portas abertas parecendo aguardá-los. Ambos andavam calados, sem esboçar qualquer tipo de reação. Adentram. Antes que alguém apertasse o botão, James olha para Mike. É... Eu também percebi.

Nenhum comentário:

Postar um comentário