Capítulo V

Foram dias gloriosos. Steve estava feliz com Tânia. Seu tio aprovara seu namoro e finalmente emprestara seu carro para o jovem casal se divertir com mais facilidade de locomoção.
Os dias passaram rapidamente. O festival da primavera havia chegado. Estava sendo realizado na praça dos sonhos. Era um sábado de festa e alegria. Steve trabalhava na empresa, pois seu tio pegara uma gripe e não pode terminar o serviço a tempo, então Steve se dispôs para fazer hora extra, sem remuneração, claro, de modo a terminar aquele projeto em atraso. Apesar de seu amor imenso por Tânia, ele sabia que aquela empresa era tudo o que seu tio tinha. Era dever dele ajudá-lo. Tânia também era muito compreensiva e entendeu a situação e se ofereceu para trabalhar junto de Evelyn, também uma funcionária da empresa de Adam, na barraca de flores do campo do festival. Steve combinou de se encontrar com ela assim que terminasse aquele projeto. Não faltava muito, mas teria que ser feito o quanto antes e enviado por e-mail para o cliente que já aguardava impacientemente. Steve e Tânia davam-se muito bem. Era um casal sem brigas. Mesmo com os sutis ataques de ciúmes de Steve.
Durante o festival, Tânia deparou-se com um rapaz, de aparência jovem, que fora até a banca dizendo estar interessado nas flores mais lindas que ela possuísse na barraca. Seu nome era Fred. Ele era bem simpático e carismático. Estas são as melhores que eu tenho senhor. Diz Tânia mostrando-lhe as flores. São muito belas mesmo, e, por favor, o Senhor está no céu. Pode me chamar de você. Até porque acho que não sou tão velho assim, não é. Não fale isso que me sinto um ancião, ancestral do vale das montanhas.  Diz sorrindo à Tânia. Ah, desculpe. Responde sem jeito, sem entender a sua comparação. É a força do hábito. O senhor, digo, você é novo aqui não é? Sim, sou sim. Cheguei aqui há alguns dias. Vim transferido dos correios. Eles estavam precisando, pois o antigo carteiro se aposentou e eles não queriam chamar uma pessoa nova para este cargo. Então eu me ofereci. Gosto sempre de alçar voos mais longe sabe. Não sou de fixar-me no chão, feito raízes não. E de onde você veio? Pergunta Tânia intrigada com aquele rapaz. Desse país mesmo. Responde rindo. Digamos que sou de muito longe. Apenas do estado vizinho, mas sabemos que este estado não está tão vizinho assim não é!? Completa. Puxa vida! Que legal! Tânia se identificou com aquele homem. Pensava da mesma forma, mas não tão selvagem assim.
E você? É daqui mesmo? Pergunta Fred puxando mais assunto. Sim. Sou daqui. Também vim de longe, não tanto quanto você, mas... enfim.
E você é solteira? Tânia se identificou mais ainda com a objetividade daquele garoto. Você é bem rápido no gatilho não acha? Responde disfarçando o constrangimento que ficara. Por que haveria de rodeios? Prefiro ir direto ao assunto! Sua personalidade deixou a garota encantada. Eram muito parecidos.
Você pode sair dessa barraca? Pergunta Fred insinuando um passeio. Posso sim. Evelyn! Responde chamando a amiga. O que foi Tânia? Algum problema? Pergunta a moça assustada com seu grito. Não, nada. Você poderia cuidar um pouquinho da barraca sozinha? Vou ali com este senhor e já volto.
Tânia, Tânia. Veja lá o que está aprontando hein! Indaga Evelyn. Ela era amiga de Tânia, mas por alguma razão não a achava tão confiável assim.
Ignorando os conselhos da amiga, partiu rumo ao desconhecido com aquele sujeito.
Passearam pelo festival conversando a todo instante. Falavam sobre assuntos diversos. Falavam até sobre as pessoas que estavam naquele festival. O que Tânia mais se encantou em Fred foi a sua incrível facilidade para nomes. Também possuía uma memória fotográfica fora do comum. Ela comentava somente uma vez sobre determinado assunto, e ele já absorvia a informação. Parecia uma esponja sugando toda água em volta.
Aquele é o senhor Thomas. Diz apontando para o homem sentado em um dos bandos ao lado de uma barraca de comida esperando sua refeição. Ele é dono de algumas lojas desta cidade. Você sabia que a mulher dele, a senhora Dina, está pedindo o divórcio por que ela afirma que ele a traia com uma funcionaria de uma de suas lojas? Quem me contou isso foi o doutor Sanchez. Aponta para o homem sentado ao lado do senhor Thomas. Advogado do casal.
Nossa! Como você sabe de tudo isso se diz ter chego à cidade há poucos dias? Pergunta Tânia intrigada com a tamanha informação de Fred.
É simples. Ele diz. Em minha vida sempre tive facilidades com nomes e feições. Guardo informações com muita facilidade. Ai, eu escolhi esta área de correios, pois vivem precisando usar seus conhecimentos para um melhor desempenho no trabalho. Isso me ajudou a aprimorar ainda mais minha capacidade. Hoje, se você me disser algo que seja até sem importância, eu conseguirei guardar esta informação por tempo indeterminado. Como, por exemplo, você ter dito que estava de vestido florido quando saiu com seu namorado Steve. Ela se espantara com Fred. Ela disse isso logo quando começaram a conversar. E isso já havia algumas horas. E ele se fez como se nem tivesse dado importância ao caso. Você é bom mesmo hein! Exclama Tânia.
Só preciso que você me diga quem são algumas pessoas, pois não conheço todos ainda. Pode me ajudar? Claro! Se eu conseguir ajudar. Tânia diz.
Quem é aquele ali? Diz apontando para um senhor de terno preto. Todo formal. Aquele é o chefe de polícia local. O Delegado Johnson. E ao seu lado? O irmão? Aponta para um homem também de terno preto e formal, e de aparência bem semelhante ao do delegado. Não, não. Aquele é o prefeito Mark. Nossa, mas são muito parecidos. Exclama Fred. Sim. Todos os confundem com irmãos mesmo pela tamanha semelhança, mas eles não são. Tânia completa. Claro que isso só enche de dúvidas as cabeças das pessoas daqui. Fred questiona. Faz-nos pensar que ou o pai andou fazendo algumas visitinhas à vizinha bonita e novinha ou a mãe conheceu algum carteiro elegante por aí. Insinua-se sorrindo debochadamente.
Ah sim, claro! Quem é que resiste a um carteiro tão delicioso como você! Tânia entra em sua brincadeira. Você se acha um pouquinho não é?!  Começa a rir.
Oras, eu tenho que vender meu peixe não é verdade?! Se eu não vendê-lo, quem o fará por mim? Começa a rir também.
Nisso, Steve aparece e surpreende os dois rindo. O que está acontecendo aqui Tânia? Pergunta perplexo. Ah, oi amor! Tânia o ignora. Este é Fred. Ficamos conversando um pouco. Ele é um barato!
Olá, tudo bem? Diz Fred estendendo sua mão cumprimentando Steve que mal olha em sua direção.
É, percebi que estavam conversando mesmo, só que não tem nada de um pouco não é? Já estou á duas horas te procurando! Steve se exalta. Fui à barraca de flores e a Evelyn me disse que você tinha saído com um cara aí, e isso já tinha muito tempo. Saio desembestado lhe procurando, e quando a acho, vejo você de papo com esse sujeito!
Ei, calma, Steve! Pra quê esse tom de voz!? Tânia se ofende. Não vimos a hora passar. Ficamos distraídos. Ai, que estresse!
Acalme-se Steve. Ela está dizendo a verdade. Eu fui o culpado por tudo. Eu quem insistiu ela a sair de seu posto. Peço desculpas. Fred tenta acalmar os ânimos de Steve que o encarava agora enraivecidamente.
Fred, nos dê licença só um pouquinho? Diz Tânia.
Está bem. Vou ali comer um pedaço de bolo. Completa Fred se dirigindo à barraca dos bolos.
Steve, você ficou maluco é? Que vexame, meu Deus! Diz Tânia achando-se com razão.
Vexame, Tânia? Eu quem estou maluco? Você abandona um posto onde você mesma se ofereceu a trabalhar, pois disse que adorava esses eventos de cidade. Deixa a Evelyn sozinha cuidando de tudo, sabendo que ela é meio lenta, vemos isso claramente na empresa, pra sair com um cara que você acabou de conhecer, e me deixa igual a um otário te procurando por todos os lados enquanto você estava de gargalhadas com aquele sujeito. Aponta com o dedo em riste para Fred. E eu quem sou o maluco, Tânia?
Steve estava certo. Tânia tinha esse jeito de ser. Não pensava muito nas consequências de seus atos. Só pensava no momento, e nada mais importava.
Está bem amor. Você está certo. Desculpe-me. Eu me deixei levar pela situação, mas é que ele é um cara incrível. Muito esperto e simpático. Sério, não fiz nada para te magoar. Sabe que gosto muito de você, e não faria nada para prejudicá-lo ou feri-lo. Por favor, acredite em mim. Tânia assente sua culpa. Só peço para que converse com Fred. Tente conhecê-lo e também verá que ele não é uma má pessoa. Por favor, por mim.
O problema é que eu fico imaginando até onde você irá se deixando levar pela situação. E como você mesmo disse você gosta de mim, mas pelo visto não me ama. Steve sentira-se decepcionado com as palavras de Tânia. Não gostei dessa sua atitude. Aliás, não me pareceu em nada ser esse o tipo de atitude que você teria, mas está bem. Não deveria, mas vou tentar forçar uma amizade com esse tal Fred.
Obrigada amor. Responde Tânia enchendo-se de esperança.
Volta-se para Fred acenando-o com a mão pedindo para voltar onde estavam. Ele, vendo o sinal, engole o bolo às pressas e se dirige até o casal.
Oi Fred. Diz Steve. Desculpe pela minha atitude de agora pouco.
Não, tudo bem. Como disse, eu tenho culpa em partes nisso tudo. Sou eu quem lhe devo desculpas.
Bom, agora que estamos todos entendidos, que tal um sorvete? Tânia doz quebrando a situação embaraçosa. O meu é de floresta negra.
Os três partem em direção à sorveteria que era de frente para a praça dos sonhos. Lá, passaram horas, sentados na mesa na calçada conversando. De onde estavam, era possível ver todo o festival acontecer.
Steve começou a ficar mais tranquilo enquanto Fred contava suas histórias. Começou a admirar aquele rapaz de forma amigável. Ele possuía muitas histórias fascinantes. Uma mais interessante que a outra. Não sabia dizer o que o fizera mudar de opinião, mas percebeu o que Tânia, que também tinha esse espírito aventureiro, viu de tão especial naquele sujeito.
Ao final da tarde, quando o festival se já despedia, perceberam que se davam muito bem os três juntos. Marcaram então de ir ao Veteran’s Hall, um bar que Tânia apresentara para Steve e se tornara o ponto máximo dos seus passeios. Lá, os jovens se encontravam para conversar, beber e jogar alguns jogos, como bilhar e dardos. O ambiente daquele lugar era algo muito agradável. Possuía a personalidade típica de um bar estilo pub, com sua estrutura toda em madeira e um bar atrás do balcão que relembrava os filmes antigos daquela época e ao mesmo tempo havia características modernas como pinturas surrealistas e decorações alternativas que os embalavam em uma nostalgia de tempo e espaço onde todo jovem se perde.
Não demorou muito até ser considerado o melhor local da cidade para Fred e para muitos outros ali. Ele também adorava esses ambientes novos e cheios de vida. Para ele, não existia lugar melhor.
Sua bebida preferida, Gim. Apresentou-a ao casal, que logo gostaram. Apenas Steve que ainda preferia um suco algumas vezes, mas tomava Gim como água em muitas outras vezes.

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