Capítulo VI

O tempo passa depressa. Três meses atrás eles eram como desconhecidos um para o outro, mas agora Steve e Fred tornaram-se grandes amigos.
Certa vez, Steve passara por apuros com a empresa do tio. Não conseguiam trabalho. Estavam em uma época de crise. Sem Steve saber, Fred mandou elaborar com Evelyn, os quais saíram diversas vezes juntos, e até mantinham um relacionamento aberto, alguns panfletos e cartões e distribuía-os juntamente com as correspondências. Fez contatos com a cidade de onde veio. Mandou alguns e-mails, junto de Evelyn, pois ele se considerava ignorante para o computador. De certo, não sabia nem ligá-lo. Em pouco tempo, choveu trabalhos para a empresa de Adam. Tanto que tiverem de aumentar o espaço físico e contrataram mais gente. Quando se deram conta, alugaram o andar de baixo e fizeram uma extensão da empresa. Steve e Adam estavam orgulhosos. Felizes por terem voltado a todo vapor.
Quando Steve descobriu que foi Fred que o ajudara, percebeu que este realmente era um grande amigo.
Ele o ajudou também, em outra ocasião, a levar Adam para o hospital devido às dores de cabeça que aumentavam a cada dia, por falta de cuidados com a saúde. Ele era muito centrado e dedicado à sua empresa que se esquecia de cuidar de si. Sua visão andava bastante turva ultimamente. Os óculos que usava já não o ajudavam a focar bem as coisas. Precisava trocar, mas nunca tinha tempo para isso.
Neste dia Steve foi avisado do episódio quando estava na empresa. Era manhã de um sábado, mas ele tinha um prazo de um trabalho que estava quase no fim. Fora Fred que o avisou já no hospital. Disse que havia ido até a casa de Steve para prosear, mal sabendo que Steve havia feito hora extra para terminar esse serviço sem mais atrasos, quando percebeu que estava tudo calado. Não havia resposta à campainha que tocava. A porta estava destrancada. Achou melhor adentrar e, logo que o fez, avistou o senhor Adam no chão da sala de estar. Percebeu que seu amigo não se encontrava. Supôs que estivesse na empresa, pois era lá que ele sempre acabava indo.
Rapidamente socorreu-o levando ao hospital. E de lá, após todo o procedimento emergencial, ligou para Steve notificando-o do ocorrido.
Fred demonstrou-se um ótimo amigo e companheiro de saídas. Sempre saíam os três, de vez em quando quatro. Isso quando ele convencia Evelyn de ter mais um dia de relação aberta. Ele era sempre o mais atirado do grupo. Conseguia seduzir qualquer um com suas palavras, tendo em troca tudo o que queria. Fossem ingressos para algum espetáculo da cidade, ou uma garrafa de Gim. Steve logo percebera essa personalidade indutora. Aquela pessoa que te induz a fazer algo que muitas vezes você era capaz de negar para Deus e o mundo, mas que ele possuía um jeito único de dominar sua vontade e fazer você escolher o que ele queria que escolhesse. Tânia a simpática, sempre com um sorriso no rosto e Steve, o mais acatado e tímido.
        Numa noite de sábado os três estavam entornando varias garrafas de Gim, coisa que faziam com certa frequência, e Tânia, já visivelmente atordoada pelo álcool, revela o talento que Steve possuía com os computadores.
Ah, eu não sei lidar com essas máquinas! Fred se refere aos computadores. Eles têm aos montes lá no correio, mas eu não gosto deles. Estão sempre tentando nos treinar para esses troços, e eu não faço questão alguma. Prefiro o velho método de cartas, papel e caneta mesmo.
Isso porque você não sabe o que Steve é capaz de fazer. Tânia acrescenta. Ele sabe fuçar nessas coisas. Eu lhe falo a verdade que sei somente o básico, mas ele, -aponta para Steve que estava surpreso com a revelação da namorada- ele sabe fazer qualquer coisa que você quer. Ele descobre senhas, invade um sistema, como é mesmo o nome Steve. Indaga Tânia não se lembrando do nome. O efeito do álcool fizera perder a noção das palavras. Co-di-fi-ca-do. É isso né!?
Steve não acreditara no que Tânia acabara de fazer. Do que você está falando Tânia? É melhor para com o gim, pois já está corroendo sua mente! Fala tentando contornar o assunto, mas Fred possuía um fascínio com esta revelação das incríveis habilidades de seu amigo. Era possível ver o brilho em seus olhos. Steve ficara com medo daquela reação do amigo.
Eu estou louca, Steve? Para de ser medroso! Eu já disse que você tem um talento grandioso. Isso precisa ser revelado ao mundo! Tânia grita.
Cale a boca garota! Você não sabe o que está dizendo! Steve se altera. Tânia sente seu rosto queimar de ódio pelas palavras de Steve.
Esta informação vale ouro, meu jovem amigo. Fred diz quebrando aquele momento de raiva dos dois. Por que nunca me falou sobre isso?
E porque haveria de dizer, Fred? Eu não acho que tenho todo esse talento ai. Só fico mexendo, fuçando. E só aprendi por acaso. Steve justifica.
E que acaso hein! Fred o interrompe. Se isso fosse uma consequência de um simples acaso, quisera eu também poder ser vitima dele.
Steve não bebera muito naquela noite, mas ainda podia sentir o álcool correr pelas suas artérias entorpecendo-o e fazendo-o cambalear o corpo e embaralhar sua mente, diferente de Tânia que mal segurava a língua e perdera totalmente a noção das consequências de seus atos.
Ainda nesta situação, era capaz de ter curtos lapsos de lucidez. Mas é mentira Fred. Como lhe falei antes, sou apenas um curioso. Fico tentando entender como essas coisas funcionam. Ai, eu acabo aprendendo uma coisa ou outra, mas não é nada demais. Tânia está exagerando a história.
Não estou não! E nunca mais me mande calar a boca, ouviu!? Tânia se enfurecera com a forma que Steve gritara com ela. Se você está tão certo de si, mostre a ele então o que você sabe fazer, e deixe que ele - referindo-se ao Fred - decida sobre o assunto.
Eu não tenho que provar nada a ninguém, Tânia. Deixe de ser inconveniente! Olha, é melhor mudarmos logo de assunto. Não estou nem um pouco a vontade com isso tudo. Steve não aguentava mais aquela conversa.
Fred, porém, parecia não ouvir nenhuma palavra que seu amigo pronunciava. Estava com um brilho voraz em seus olhos. Perdidos em pensamentos obscuros e questionáveis. Demonstrava uma expressão como se tivesse descoberto uma caverna abarrotada de tesouros perdidos.
        Enquanto Steve e Tânia discutiam sem fim, e já estavam começando a apelar com palavras ofensivas, Fred continuava imóvel. Demonstrava estar com pensamentos maléficos. Provavelmente sobre a conversa que tiveram. Eis que a discussão é cortada com uma pergunta.
Por acaso vocês estão sabendo que está para chegar ao museu de história da cidade uma joia valiosíssima? Ela está a caminho da grande metrópole. Devido ao seu longo percurso, ela fará uma parada de segurança aqui na cidade. Ficará apenas uma noite no centro de documentação do museu, e partirá no dia seguinte ao seu destino final. Ouvi dizer que estão trazendo, junto com a pedra, um sistema de vigilância de ultima geração para fazer segurança desta joia. Fred diz com uma feição séria. Suas palavras soavam retas, diretas e pronunciadas claramente. Nem parecia aquele Fred brincalhão que todos conheciam.
Que pedra é essa? Pergunta Tânia disfarçando o espanto na feição do amigo.
        Mas o que isso tem a ver com a conversa? Indaga Steve antes mesmo que Fred pudesse responder a pergunta de Tânia. Não entendia o que aquela tal pedra tinha a ver com a conversa, mas tinha certo receio do que poderia sair da boca de seu amigo. A julgar pela postura que Fred tomara, não seria boa coisa. E tinha medo disso.
        Com um leve sorriso sórdido no canto da boca, Fred faz uma pergunta a Steve que o deixa paralisado, com os olhos fixados num ponto qualquer da jaqueta de Fred. Pareciam estar fixados no vazio. Tânia, assim como Steve, pareceu ter recuperado subitamente a sobriedade e fixou seu olhar em Steve. Será que você consegue quebrar este sistema?

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